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Boys and Girls

Como governar bem se a equipa de apoio não tem a qualidade exigida para o cargo?

Em todos os governos existem “boys and girls” que são nomeados pelas mais variadas capacidades, qualidades, razões ou apetrechos. É no Governo da República, é no Governo Regional, são nos grupos parlamentares dos partidos, são nas Câmaras Municipais e em todos os órgãos onde existem cargos de nomeação pública. A mim não me incomoda a tabela salarial desta gente, pois defendo bons ordenados para a gestão do bem público. Mas, precisam ser bons profissionais. O problema é que, muitas vezes, a tabela salarial não está adequada nem à qualidade, nem a quantidade de trabalho produzido para o bem público.

Nestes dias, fiquei a conhecer pela comunicação social Tiago Cunha. Um jovem de 21 anos, acabadinho de sair da faculdade de Direito, da Universidade do Porto, e que foi contratado como adjunto do Gabinete da Ministra da Presidência a ganhar 3.732,76 Euros brutos. E rapidamente se gerou uma polémica sobre a falta de currículo deste jovem. Efetivamente, poucos são os jovens que começam a sua atividade profissional neste patamar. É mais do que evidente que beneficiou, ou da influência de familiares, ou dalgum “tutor” profissional, ou político. Beneficiou da “palavrinha” que não existe para a grande maioria dos jovens licenciados e até mesmo para os bons profissionais com anos de serviço.

Não questiono a capacidade intelectual deste profissional, pois não o conheço. Pode até ser um excelente profissional com novas ideias que acrescente uma mais-valia à gestão pública. Temos de esperar para ver e avaliar.

O problema destas nomeações é a desconfiança que se gera na população sobre a qualidade das equipas ministeriais e de governo. A falta de experiência profissional e/ou falta de qualificação para determinados cargos generalizou-se como contrapartida para “fidelizar” votos. E, por isso, é normal questionarmos sobre as várias nomeações e as suas verdadeiras razões.

Os cargos de nomeação não envolvem só a parte boa do cargo - a remuneração. Envolvem também dedicação à causa pública e ao efetivo “assessoramento” do governante. Como governar bem se a equipa de apoio não tem a qualidade exigida para o cargo? A quantidade de ódio que se destila nas redes sociais, inclusive na hora de serviço, é pré-requisito para se ser assessor? O trabalho de assessor não seria mais proveitoso e útil se estivessem a explorar ideias para melhorarem a governação e a vida das pessoas?

Certo é que as equipas governativas deveriam de ter a capacidade de aliciar os melhores profissionais com provas dadas do seu trabalho para auxiliá-las na sua função que é governar. Não se espantem depois, perante este regabofe, que seja cada vez mais difícil fazer listas candidatas. Os “bons” recusam “emprestar o seu bom nome” a este circo que não tem pudor em arrastar boas pessoas para a lama.

Perante o caso da nomeação de Tiago Cunha, por enquanto, só tenho um comentário a fazer - pelo menos é licenciado. Casos há de assessores neste governo regional e nas câmaras municipais que nem licenciados são. E inclusive deputados. Alguns, especialmente os jotinhas, vão para a Assembleia da República, a Assembleia Regional e/ou Assembleias Municipais e nem licenciatura, nem experiência têm. Pergunto – está esta gente preparada para trabalhar, discutindo legislação e medidas para o bem da população?

Agora imaginem o quão grande é o sentimento de injustiça dos bons profissionais, com provas dadas do seu valor ao longo de anos, que continuam a trabalhar bem sem atingirem estes patamares remuneratórios, que passam por dificuldades financeiras na sua vida, e que observam à distância as “qualidades” necessárias para “vencer na vida”?

Calar-se é solução? Só se pretende apenas sobreviver e desistir de viver.

Acho que a Madeira precisa de “importar” aqueles jovens ativistas pelo clima para virem cá ensinar aos madeirenses a aprender a reivindicar os seus direitos. Apesar de não concordar com tudo o que fizeram e ser mais moderada, talvez pela responsabilidade da idade, gostei de ver aqueles jovens lutarem pelo que acreditam.

Calar-se não é solução. Vejam o Ronaldo. Se se calasse, não estava ele a tomar as rédeas da sua vida e não saberíamos o que se passava nos meandros do Manchester United.