Análise

Nada sob controlo

O que tem o PCP para oferecer aos mais jovens, aos inconformados e aos descrentes na classe política actual?

1. Miguel Albuquerque está a correr um risco desnecessário e perigoso. A técnica que está a utilizar para desvalorizar o sentimento de insegurança existente sobretudo no Funchal não é nova. É bem conhecida e foi utilizada até ao limite pelo seu antecessor. Em nome do Turismo. Tudo o que pudesse beliscar o modelo seguro que a Madeira sempre representou para quem nos visitava era de imediato atacado pelo ex-presidente do Governo, que recorria à delirante teoria das campanhas contra a Região para desviar atenções sobre os reais problemas que atormentavam a população. Foi assim com o aumento dos sem-abrigo e dos toxicodependentes, assim como com a proliferação dos miúdos das caixinhas na baixa do Funchal e de Câmara de Lobos. Se o cartaz era mau, era de imediato exorcizado.

Os problemas, em democracia, devem ser encarados para serem solucionados ou mitigados. Negar uma evidência é passar um atestado de imbecilidade aos que são penalizados com os assaltos – um deles gerou inclusive uma morte – e contribuir para o seu fomento. Contra factos não há argumentos. Há mais delinquência nas ruas, roubos e actos violentos na via pública. Basta olhar para as notícias. Cabe ao Governo Regional retirar a cabeça da areia e encontrar soluções para o problema, que passam pelo incremento do patrulhamento policial (pressionando o Governo da República a dar mais meios à PSP e à GNR), por um programa de saúde mental eficaz e que vá de encontro ao crescente drama dos toxicodependentes e aos mais vulneráveis da sociedade. A velha cassete de que está tudo controlado e que tudo não passa de uma prodigiosa e fértil imaginação só vai agudizar o problema que acabará por rebentar nas mãos do presidente do Governo, para além de já ter marcado a primeira grande divergência pública com o presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado.

A questão da segurança na Madeira não está sob controlo.

2. O Partido Comunista tem uma nova liderança. Paulo Raimundo sucedeu a Jerónimo de Sousa, figura empática mas incapaz de efectuar o progresso programático de um partido que foi determinante no combate ao antigo regime e importante na luta da classe operária. Os resultados eleitorais mostram o desgaste do PC provocado pela amarração a ideologias patetas e de consequências nefastas. Ou Paulo Raimundo muda a cartilha ou poderá ser o coveiro do partido que nega as evidências e que está quase sempre do lado errado da História. Não basta dizer-se a favor da paz e contra a guerra. É preciso mais. Muito mais, como não legitimar ditaduras asquerosas. O PC ainda pode ter um papel na política portuguesa e também na da Madeira, se tiver coragem para efectuar as mudanças necessárias e reconquistar o eleitorado de uma esquerda que não se revê nem no PS nem no Bloco de Esquerda. Na Região, a mesma liderança de 20 anos já não frutifica, cristalizou-se, fala para si própria e para uma coluna de seguidores cada vez mais insignificante.

O que tem o PCP para oferecer aos mais jovens, aos inconformados e aos descrentes na classe política actual?

Não, ao contrário do que afirmam os actuais dirigentes, não está tudo sob controlo!

3. O anúncio da candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos é uma péssima notícia para a democracia. O ex-presidente incorpora a antítese dos valores democráticos e a vitória do caos e do negacionismo, com todas as implicações que isso gera no Mundo, nos amantes das fake news e do populismo abjecto, que infelizmente já faz caminho entre nós. O homem que nunca reconheceu a sua derrota nas urnas em 2020 é um perigo para um mundo envolvido numa cruzada contra uma guerra estúpida e sem fundamento. O regresso de Trump pode ser sinónimo da perda total do controlo.