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Extremistas domésticos nos EUA vêm rede eléctrica como alvo para causar distúrbios

Foto Shutterstock
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Grupos extremistas nos Estados Unidos estão a considerar, cada vez mais, os ataques à rede elétrica como uma forma de causar distúrbios no país, alerta um relatório governamental divulgado na terça-feira pela agência Associated Press (AP).

Extremistas domésticos "desenvolveram planos credíveis e específicos para atacar a infraestrutura de eletricidade desde pelo menos 2020", aponta o relatório do gabinete de inteligência e análise do Departamento de Segurança Interna.

Este documento, datado de segunda-feira, é destinado a agências de aplicação da lei e operadoras de serviços públicos norte-americanas.

O relatório alerta que os extremistas que "aderiram a uma série de ideologias" podem continuar a conspirar e incentivar ataques físicos contra infraestruturas elétricas, que incluem mais de 6.400 estações de produção de energia e cerca de 725 mil quilómetros de linhas de alta tensão que abrangem o país.

Segundo especialistas sobre a rede elétrica norte-americana, seria difícil 'deixar às escuras' o país, devido ao tamanha e à natureza descentralizada da redes.

Mas o relatório do Departamento de Segurança Interna também refere que os atacantes, pelo menos sem ajuda interna, não conseguiriam produzir interrupções generalizadas em vários estados, embora ainda pudessem causar danos ou ferimentos.

Estas informações surgem numa altura em que o FBI (Departamento Federal de Investigação) e o Departamento de Segurança Interna têm alertado repetidamente, nos últimos meses, de que os Estados Unidos enfrentam uma grande ameaça de extremistas domésticos.

A rede elétrica é vista como um alvo, tendo em conta uma série de incidentes nos últimos anos, bem como discussões 'online' em fóruns extremistas e de conspirações, porque as linhas de transmissão e subestações estão normalmente em áreas remotas e porque as interrupções podem causar frustração e divisões entre a sociedade norte-americana, sublinhou um agente federal.

"[Os extremistas] Acham que interromper o fornecimento de energia elétrica prejudicará a capacidade de operação do governo", referiu o agente, que falou sob condição de anonimato para discutir o relatório que não foi divulgado oficialmente.

"Em segundo ligar, ao realizarem ataques contra infraestruturas de comunicações e eletricidade pensam que isso pode acelerar a próxima guerra civil que antecipam", acrescentou.

Algumas destas preocupações têm quase uma década e, em 2014, a Comissão Reguladora Federal de Energia determinou que os operadores da rede aumentassem a segurança após um ataque de um 'sniper' a uma subestação numa área isolada a sudeste de San Jose, no Estado da Califórnia.

O caso, citado no relatório, não resultou em nenhuma detenção e o ataque surpreendeu as autoridades e podia ter interrompido o fornecimento de energia no Silicon Valley.

Entre os incidentes citados está ainda a suspeita de conspiração de extremistas de supremacia branca para atacar centrais elétricas no sudeste dos Estados Unidos, como parte de um esforço para causar danos caso discordassem do resultados das eleições presidenciais de novembro de 2020 [conquistadas por Joe Biden a Donald Trump].

Em resposta à AP sobre este relatório, o Edison Electric Institute, uma associação de empresas que fornecem energia a cerca de 70% da população dos EUA, explicou que já coopera há anos com o governo para responder a uma série de perigos potenciais.

O documento menciona ainda quatro supostos extremistas, acusados em outubro de 2020 de conspiração para danificar transformadores no Estado de Idaho, entre outros, e a prisão em maio de 2020 de três supostos extremistas de milícias ligadas ao movimento antigovernamental Boogaloo, acusados de conspiração para atacar uma subestação elétrica em Las Vegas.