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Cantar vale a pena!

A música faz parte de quase todas as conhecidas civilizações humanas. A prática da música é uma das atividades fundamentais do ser humano. De certeza que a música desde sempre representou um tipo de comunicação, mas o conteúdo desta comunicação não é inequívoco. A nossa sociedade moderna utiliza a música da mesma maneira que as sociedades antigas de língua ágrafa, tal como numa cerimónia de coroação ou num funeral. Várias teorias da origem e do significado da música baseiam-se na importância da comunicação pré-verbal entre a mãe e a criança: existe um complexo “vocabulário” sem palavras através do qual os dois conseguem comunicar, brincar e expressar as suas emoções, necessidades e desejos. O “instrumento” utilizado para esta comunicação é um cuja complexidade representa uma das razões determinantes do nosso elevado lugar na escada da evolução: a nossa voz.

Cantar, utilizar a sua própria voz como um instrumento de comunicação e da expressão das emoções, e um dom que nos foi dado para o podermos partilhar com os outros “cúmplices” que ainda, nestes tempos estranhos e complicados, sentem a necessidade de comunicar e partilhar as suas emoções, e reforçar os seus laços sociais.

Para quase todos a atividade coral começa na escola, tendo mais do que metade de coralistas alguém na família que já cantava. Daí é que se pode perceber a importância da educação e da família para a primeira iniciação nas artes. Além disso, canto coral ajuda a construir aptidão social e melhora aptidão escolar. Representa também um ponto de entrada para as artes muito acessível, provavelmente com menos barreiras económicas, culturais e educacionais do que as outras artes. Trabalhando em conjunto, os coralistas contribuem para a criação de um resultado artístico maior que eles próprios e também travam amizades que podem alterar as suas vidas.

O conhecido escritor Americano Garrison Keillor disse: “Cantar desta maneira, na companhia de outras almas, e fazer as consoantes deslizar da boca com tal facilidade e em uníssono, produzir harmonias tão ricas que provocam lágrimas – isso é que é transcendental, isso é o poder que o canto coral possui e com que outra música apenas pode sonhar.”

O aspeto comunal do canto coral é especialmente significativo para o nosso presente, no qual apostamos cada vez mais nas redes sociais em vez da interação pessoal. Robert Putnam, um perito da Universidade de Harvard, afirma que a importância do canto coral se estende muito para além da criação musical e atividade artística em si. Ele vê a participação na execução coletiva como contribuição direta para a confiança social e reciprocidade que constam da base da atividade cívica. Nos Estados Unidos existem cerca de 250 mil coros. Só em Paris hoje existem cerca de 500 coros, tendo o Instituto Francês da Arte Coral cerca de 280 mil sócios. Ainda mais, este estudo concluiu que os coralistas têm uma tendência muito elevada de participar nas atividades de caridade e duas vezes mais costumam participar ativamente nos processos políticos e nas atividades artísticas em geral. Muitos coralistas apontam para a combinação da disciplina, atenção aos pormenores, trabalho em equipa e o valor social da experiência coral como muito significativos para o melhoramento da sua vida diária, tanto no trabalho como na família.

Nesta altura do regresso gradual a uma certa normalidade e depois de tempo bastante extenso em que foi muito complicado exercer a prática coral, não faltam então razões para incentivar os miúdos e os graúdos a aderirem (de novo) a esta atividade cujo retorno em muito supera o investimento!