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MNE defende uma Europa "mais autónoma, dona de si e aberta ao mundo"

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O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu hoje a necessidade da Europa ser mais autónoma, dona do seu destino e aberta ao mundo, e apontou perigos e ameaças de confrontação e divisão.

"Se a Europa quer contribuir, e o mundo necessita que a Europa contribua, para o equilíbrio geopolítico, tem de ser mais autónoma e mais dona do seu destino, mas a condição necessária para essa autonomia é a sua capacidade de abertura ao mundo e aos outros blocos regionais", disse o chefe da diplomacia portuguesa no Fórum La Toja, na Galiza, Espanha.

Discursando num painel intitulado "O Novo Equilíbrio Geoestratégico", Augusto Santos Silva considerou de "vital importância" que a União Europeia seja mesmo, não só nas suas palavras, mas nos seus atos, um ator global.

O mundo precisa de uma União Europeia que seja "um ator global" que valorize o multilateralismo e a comunidade e a ordem internacional baseada em regras, frisou.

E para que a Europa seja um "ator mais efetivo" precisa ser mais autónoma, acrescentou.

Para o ministro, a abertura da Europa ao mundo é uma condição `sine qua non´ para a sua autonomia.

Augusto Santos Silva admitiu que a Europa está muito preocupada, e a justo título com duas ameaças, uma ameaça de confrontação com a China e uma ameaça de divisão entre os países ocidentais.

"Uma ameaça de confrontação com a China dados os últimos gestos e atitudes da República Popular da China em Hong Kong, em relação a Taiwan ou no Mar do Sul da China", explicou.

E um perigo de divisão que resulta da perceção que os europeus fizeram do acordo celebrado entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália "nas suas costas", salientou, referindo-se ao pacto de defesa AUKUS feito entre estes três países para enfrentar a China na região Indo-Pacífico.

Contudo, o ministro dos Negócios Estrangeiros assumiu que "tão ou mais importantes" que esses perigos, há um "mais escondido" que é o perigo da Europa ignorar parceiros tão importantes como a América Latina.

"Eu vejo, designadamente no Conselho de Negócios Estrangeiros da União Europeia que a relação entre a Europa e a América Latina não constitui um traço que una os ministros dos Negócios Estrangeiros e é, muitas vezes, tido como um interesse sub-regional de países como a Espanha, Portugal ou Itália", realçou.

E isso, na sua opinião, é "um erro" porque a América Latina e a Europa são provavelmente os blocos mais alinhados entre si dando, a título de exemplo, a maneira como votam quase sempre em conjunto nas Nações Unidas.

A Europa distingue-se de outras entidades ou potências pela sua capacidade de falar com diferentes blocos regionais, desde a América do Norte, o Reino Unido, América Latina, África e as várias Ásias, sublinhou o ministro.

Antes, na sessão inaugural da terceira edição do fórum, o Rei de Espanha, Felipe VI, referiu que a sociedade internacional está a testemunhar inúmeras mudanças na ordem geopolítica global, caracterizadas desde o início deste século pelo surgimento de novos atores, equilíbrios de poder e cenários que geram, cada vez mais, incertezas e maiores dificuldades de governação.

É, por isso, que o isolamento não é uma boa opção, considerou, acrescentado que a pandemia de covid-19 com todas as suas implicações e consequências fez com que muitas dessas transformações ocorressem com mais intensidade.

O Fórum La Toja, que decorre hoje e sexta-feira, reúne políticos, pensadores e empresários e tem como tema nesta edição de 2021 "Uma Oportunidade para Relançar o Vínculo Atlântico".