Análise

Humores de Verão

Agosto é querido, mesmo sem romarias. É desejado, mesmo sem viagens de longo curso, porventura rumo a destinos exóticos e a aventuras inesquecíveis. É apreciado, mesmo sem afectos efusivos.

Agosto é ‘silly season’, alegadamente o período do ano de menor intensidade informativa nos media, uma das muitas narrativas postas a circular por quem não tem nada que faça e assim sonha aparecer nas notícias. Puro engano. Na comunicação social que dispensa trivialidades não há mãos a medir com matérias determinantes para o futuro colectivo.

Agosto é o palco dos humores e amores de Verão, das teimosas obsessões que se repetem ciclicamente, à boleia de momentos calendarizados ou de procedimentos ditados pelos factos.

Agosto é também por isso o mês dos….

. Extremismos. Sempre que é preciso tocar numa escarpa, numa ribeira, numa estrada, numa árvore e em todos os elementos que ameaçam a segurança de pessoas e bens é um drama existencial para os políticos. Tudo porque quem tem como missão decidir, pensa mais nos efeitos públicos das opções que toma do que no impacto real das medidas a aplicar com base em ‘chips’, estudos e pareceres. Qual é na verdade o bem maior? Que nos largos e nas fontes desta ilha haja bom senso acrescido, que impeça mais gente de ser vítima de tragédias perfeitamente evitáveis.

. Adiamentos. Na semana que passa, revelámos que a poluição sonora nas estradas continua por fiscalizar. Há noites velozes, de escape livre, na via rápida. A Polícia já tem os sonómetros há um ano, mas os agentes ainda não concluíram a formação. Não admira que a PSP seja chamada a “várias dezenas” de situações relacionadas com o barulho, venha ele da estrada, da vizinhança e da tasca.

. Queixas. São tantas que algumas exigem atitude preventiva. A ASAE e a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar lançaram uma campanha informativa para ajudar os cidadãos a tomarem decisões alimentares informadas e explicar o papel da ciência e dos cientistas na segurança alimentar. Presume-se que esta opção seja uma realidade também na Região. É caso para perguntar se, depois de um longo período em que muitos hotéis e restaurantes estiveram encerrados, a reabertura foi objecto de operação de fiscalização, de carácter pedagógico e preventivo, de modo a assegurar que as manutenções e limpezas prévias à entrada funcionamento foram bem feitas.

. Ajustes directos. O número de contratos atribuídos sem concurso público é assustador. Na ‘volta à ilha’ sobre as adjudicações dos municípios madeirenses temos constatado uma vertigem sem precedentes pelo facilitismo que torna algumas opções suspeitas e outras eticamente questionáveis. Tudo tem tido explicação a condizer, mas sobra uma margem para uma avaliação que requer outra postura autárquica.

. Palpites. A covid-19 infecta ou mata. Mesmo os que estão vacinados. Mesmo os que nos são próximos. Mesmo os que aparentemente estão protegidos. Deixemo-nos por isso de ‘achismos’ e de excepções. De compassos de espera e de dissertações. Façamos pelo melhor, à luz da ciência e de acordo com quem sabe.

. Olímpicos. Há potenciais medalhados que nunca vão sair do teclado neste País com cada vez mais sedentários, mas também de gente esforçada que continuará a surpreender, mesmo que Portugal tenha muito por fazer de modo a incentivar a população a comportamentos cúmplices da vida sã, a uma prática desportiva intensa, bem como a melhorar os apoios à alta competição.

. Ralis. A festa madeirense foi vistosa. Na competição, na diversão e na alienação. Muitos vingaram-se de um ano sem arraiais, sem ajuntamentos em larga escala e sem convívios. Mas só alguns notaram a infracção consentida. Numa prova memorável que confirma a propensão da ilha para as quatro estações - um item diferenciador num destino que não vale só pelo que aparentemente todos procuram – os jogos de pneus e as surpresas climatéricas rivalizaram com as baldas no controlo pandémico. Vimos muitos sem máscara, em zonas apinhadas de gente. Perdoem-nos os que cumpriram com as regras e com o civismo que lhes sai da alma. Desses também reza a história. Pelo exemplo pedagógico e por serem perseverantes.

. Descansos. É tempo de férias que devem revigorar a lucidez. Pela frente há muitos desafios.