Discutir ideias e não decapitá-las

O Ministro da Administração Interna (MAI) suspendeu a pena “por violação de deveres funcionais” ao agente da PSP Manuel Morais (MM) que em Junho/2020 na sua página do Facebook utilizou uma linguagem insultuosa e de incitamento ao ódio contra o deputado André Ventura (AV) chamando-lhe “aberração” ao que acrescentou “decapitem esses fascistas nauseabundos que não merecem a água que bebem”. A pena fora já confirmada pelo diretor nacional da PSP que se viu assim desautorizado pelo MAI. Como acontece em casos semelhantes MM tratou logo de alegar em sua defesa que “em momento algum quis ofender ou decapitar alguém no verdadeiro sentido da palavra” mas apenas “transmitir que é necessário decapitar as ideias racistas que prejudicam a sociedade em geral” e que “não se queria referir em concreto à pessoa André Ventura, mas sim a muitas ideias que o mesmo já expressou publicamente”. Há de imediato uma questão que se coloca alguma vez MM utilizou esse mesmo discurso de ódio ao pugnar pela causa do anti-racismo perante comportamentos de caráter racista e de violência gratuita levados a cabo por alguns dos seus colegas? Creio bem que não. Ao pretender justificar-se afirmando que afinal o que pretendia não era “decapitar” AV mas sim as ideias por ele expressas, MM ignorou que “Não há machado que corte a raiz ao pensamento” e que ao longo dos tempos a decapitação das ideias coincidiu com a daqueles que as exprimem. Tem sido sempre assim em todos os regimes onde o extremismo e a intolerância campeiam independentemente de serem fascistas de extrema direita, comunistas de extrema esquerda ou jihadistas terroristas do Estado Islâmico. Posso e devo combater ideias das quais discordo com outras ideias que me pareçam acertadas, mas nunca como um carrasco de machado alçado. Em 25 de Abril de 1974 um grupo de militares devolveu-nos a DEMOCRACIA, para continuar a merecê-la e a defendê-la é necessário discutir as ideias e não decapitá-las.

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