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Rapazes não deixem de estudar!

Em ano de censos é importante relembrarmos alguns dados sobre a evolução da educação em Portugal. Em 1960 somente 0,9% da população com 15 ou mais anos tinha o ensino superior (universitário ou politécnico), em 2011 (último Censos) essa percentagem tinha aumentado para 14,8%. Se olharmos por sexo as percentagens passaram de 1,5% e 0,4% em 1960 para 12,4% e 16,9% para os homens e mulheres respetivamente, o que mostra uma inversão na composição em termos de sexo no período de 50 anos. Assim, enquanto em 1968 em cada 100 portugueses com curso superior completo 78 eram do sexo masculino e 22 eram do sexo feminino, em 2011, pelo contrário, 60 eram do sexo feminino e 39 eram do sexo masculino, sendo que a ultrapassagem pelo sexo masculino já se verificou no Censos de 2001.

Nos dados apresentados no Education at a Glance 2020 para Portugal verificamos que para a população com 25 aos 34 anos 18% do sexo masculino e 29% do sexo feminino tinham educação superior em 2009 e passados 10 anos, em 2019, 29% e 45% da população do sexo masculino e feminino respetivamente tinham este nível educacional. Existe assim um diferencial de 16 pontos percentuais entre as mulheres e os homens. Vamos ver se estes números se confirmam com os dados que vão ser apurados pelo Censos 2021.

Portugal é um dos muitos países em que as raparigas estão a obter muito mais educação superior do que os rapazes, sendoo diferencial superior ao verificado para a média dos países da OCDE e da União Europeia de cerca de 10 p.p..

Se por um lado é motivo de contentamento o que se passou e está a passar com as raparigas, por outro é preocupante o que se está passar com os rapazes que terminam a sua educação muito antes do Ensino Superior. Esta preocupação ainda é maior se se verificar, como apresentam os resultados de estudos para outros países, que o diferencial ainda é maior nos estratos populacionais mais desfavorecidos, levando a que a educação não esteja a ser um veículo para uma sociedade mais igualitária.

As justificações que têm sido apresentadas para a situação vão desde problemas da escola e do sistema educativo que não está a conseguir incluir os rapazes até à sociedade como um todo que apresenta como fator de masculinidade a capacidade de ganhar o seu próprio dinheiro para os seus gastos e ajudar a família.

Numa altura em que atravessamos uma grave crise económica é provável que muitos rapazes deixem o estudo para se dedicarem a fazerem trabalhos que não exigem qualificações e a situação tenderá a piorar se a recuperação se basear na construção civil, por isso não esqueçam os rapazes porque Portugal não se pode dar ao luxo de ter uma população jovem que não obtenha as qualificações e competências necessárias para o resto das suas vidas.