Análise

Estranha forma de resolver ameaças

Alguém tem que meter ordem num Governo que perante o caos decreta tolerâncias

A Madeira é alvo de uma série de ameaças e o que faz o Governo? Decreta tolerância de ponto para a terça-feira de Carnaval e para a manhã do dia seguinte em todos os serviços, institutos públicos e empresas públicas sob sua tutela. Estamos conversados.

O novo modelo de subsídio de mobilidade, ainda por regulamentar, está numa fase que, mais do que petições e amuos, devia gerar uma série de processos ao Estado. Mas também intervenção séria por parte dos decisores. Não é relativizando o aviso contundente de companhias aéreas como a easyJet ou entretendo o povo com comunicados que se implementa o que está consagrado numa lei. Neste contexto, o que faz o governo? Uns esperam para ver. Outros dão palpites. Muitos culpam a República. Andamos nesta novela há demasiado tempo, sempre alertando que podíamos ter o melhor dos modelos, a preços módicos, mas sem aviões para tanta procura. A fatalidade anunciada há anos, quando a easyJet sentiu o primeiro empurrão para fora da rota liberalizada, estás prestes a concretizar-se devido a inabilidades que a unanimidade apenas mascarou.

Os médicos esticam a corda e alguns que dirigem os serviços no SESARAM até já admitem renunciar aos cargos. Isto porque a tutela, de calças na mão, não aceita demissões. Toda a gente já percebeu que os contestatários não suportam a ideia de ter como director clínico quem deles disse o pior. Todos menos o Governo que prefere assegurar um acordo de coligação do que ser pragmático num dossier que exige determinação. Desconsiderações e reconciliações forçadas à parte, a uns e a outros exige-se ética profissional que permita tratar dos doentes e não comprometer o futuro do serviço de saúde da Região.

A manifesta ingerência do CDS em áreas que não tutela é mais do que evidente, com a Madeira Parques a reflectir pomposamente o Orçamento para que os centristas possam brilhar sem social-democratas por perto, enquanto o vice-presidente do Governo Regional realiza várias sessões de esclarecimento, em todos os concelhos da Região, para apresentar as principais medidas previstas no Orçamento Regional para 2020. Ou com Rui Barreto a dar entrevistas sobre as grandes opções do Turismo enquanto o secretário que tutela o sector vai tentando resolver heranças complicadas. Andam quase todos a governar para aparecer quando o que a Madeira precisa é de trabalho de casa, discreto e eficaz, pensado e de longo prazo. A perigosa vertigem pela “proximidade”, em vez de esclarecer, baralha, como se viu num outro episódio. Por muito que possa parecer ‘fake’ o certo é que os alimentos e os medicamentos faltaram na Região. Uns exigiram “medidas excepcionais” ao Governo da República. Outros culparam estivadores por uma greve que nem existia à data.

Neste cenário onde o risco se cruza com incapacidade diversas exige-se lucidez e competência, sob pena de ficarmos cada vez mais isolados e menos decisivos, mesmo com tempo de sobra para o ócio.