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A violência gratuita na sociedade Portuguesa

Escrevo em má altura, numa altura de violência, mas faço-o neste mesmo período em que é evidente, o nível das atrocidades a que chegou a sociedade portuguesa. A violência está a atingir índices inaceitáveis e a grande dificuldade em se pôr um fim a esse mal, é a multiplicidade e grandeza das suas causas.

É inegável que vivemos dias difíceis, a violência, em toda a sua plenitude, tem envolvido grande parte da sociedade mundial. Em Portugal, a violência tem feito centenas de vítimas, em alguns casos esse ato é praticado pela própria família, além de inúmeros outros ocorridos nas ruas, nos recintos desportivos, nas escolas, nos locais de trabalho, nos hospitais, nos centros de saúde, nos gabinetes médicos, chegando às salas e aos gabinetes dos tribunais, tomado desta vez uma Juíza e uma Procuradora, entre outros.

A verdade está lá fora e à vista de todos. Aliás, basta olhar para o que aconteceu na Escola Secundária da Ponta do Sol, onde a escola deveria ser um lugar seguro, tanto para os alunos como para os docentes. Contudo, em muitos caso não é. Muitos alunos são vitimas de violência e ficam calados, por temerem retaliação. Em muitas escolas, há professores que, devido ao medo que sentem dos alunos e dos seus progenitores, hesitam em confrontá-los. Afinal, o professor não tem a autoridade de um polícia e não dispõe de meios para garantir a sua integridade física, como foi o caso.

É verdade que diversos fatores colaboram para aumentar a violência. O que será das gerações futuras? Seria mais sensato e corente que os meios de comunicação social, falassem de flores e amores em vez de promoverem programas de violência. A isso, somam-se os brinquedos, em forma de armas, colocadas facilmente ao acesso das crianças. Os filmes violentos, apresentados pela televisão, têm influência sobre as crianças.

Por outro lado, o poder público, tem se mostrado incapaz de enfrentar essa calamidade social. Pior que tudo isso é constatar que a violência existe com a conivência dos sucessivos governos, das próprias polícias, dos representantes do poder Legislativo, de todos os níveis e inclusive, de autoridades do poder judiciário, num pais que tanto se gaba de ser seguro.

Analisando um outro aspecto, noto que a desigualdade social é o resultado de todas essas violências, que geram problemas muito graves. E o motivo da violência estar se alastrando, como um “cancro”, deve-se também pela impunidade e pela facilidade de se obter armas, drogas e álcool.

Mas nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições económicas. Além disso, um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, que é talvez, a principal causa da violência.

E assim, a segurança pública vai sendo tratada como algo que pode ser resolvido pontualmente com legislações, medidas e decisões de emergência avulsas, que por não terem um estudo mais aprofundado, sobre as possibilidades de resultados positivos, acabam agravando a situação e criando esse clima de maior insegurança, com o qual a população já vai se acostumando e entendendo que não tem outra alternativa senão “fugir das ruas e esconder-se dentro de casa”.

Fugindo um pouco ao tema desta crónica, mas porque a actualidade e justiça assim o exigem, não posso deixar de ser solidário com a família da criança, que faleceu no hospital com 8 anos de idade. É um episódio muito triste, perigoso e assustador. Desde logo, convirá nunca esquecer o profundo choque causado aos seus familiares e à própria sociedade madeirense.

Mais do que os erros e sucessivos arquivamentos de processos do género, o que veio a público é a terrível suspeita (esperamos que infundada) de que terá havido encobrimentos? A família, precisa que a desconfiança desapareça para viverem em paz. Resta apenas esperar que o tribunal apure responsabilidades. Faça-se justiça.