Análise

Tratados como arrogantes

A prepotência com que alguns abordam a realidade só agrava a crise

Pelos menos em cinco situações alguns madeirenses foram tratados como arrogantes na passada semana.

Dos Açores chegou uma acusação socialista ao PSD-M por este não compreender “o que significa a política de coesão”, dadas as críticas dos social-democratas madeirenses às verbas inscritas no Orçamento do Estado para o arquipélago irmão. A quem serve insistir nesta briga insular quando toda a gente sabe que não há comparação possível entre o que é diferente e que, enquanto não houver revisão da lei das finanças regionais, nada muda até porque está instalado o conceito perverso que ‘quanto pior melhor’? O que se pede é acção conjunta e urgente por melhores e justas transferências do Estado.

A vice-presidente da Assembleia da República, Edite Estrela, ao fazer uma abordagem à relação entre governos em tempo de pandemia, considerou “lamentável” que se arranjem “conflitos institucionais”, numa altura em que há uma luta contra um inimigo global e desconhecido.

Apontou o dedo à “falta de sentindo patriótico por parte do governo da Madeira”, colando-o à “imagem de Trump” e alertou que a “postura arrogante” do executivo regional condiciona pedidos de “medidas excepcionais”. E assim também se percebe porque é que o Estado não deu aval ao empréstimo da Região. Raramente alguém dá o que quer que seja a quem muito se gaba e não precisa, nem se atreve a fiar a quem dá sinais de gestão financeira duvidosa. Um passado de dívida colossal escondida não é o melhor cartão de visita.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação garantiu ter “uma boa relação com o governo regional da Madeira”, esvaziando assim a fúria de um deputado social-democrata, que se esqueceu que Pedro Nuno Santos até já foi elogiado pelo vice-presidente do governo madeirense. Comprar guerras com todos ao mesmo tempo é uma estratégia suicida.

Até o PSD nacional teve que emendar a prepotência regional ao entregar na Assembleia da República o diploma que impõe a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços públicos, praticamente idêntico ao do Governo, embora acrescente um novo artigo, que determina que o diploma se aplica “nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, com as devidas adaptações, atendendo às especificidades regionais, mediante decisão do respectivo Governo Regional”.

Percebe-se a necessidade do PSD lançar esta almofada legislativa. Aliás, como demos conta no nosso ‘fact-check’, a obrigatoriedade do uso de máscara na Região só pode ser determinada com lei da República, pois o abusivo decreto regional de Agosto último não tem força legal. O que se estranha é que confrontado novamente com tamanho vazio, Miguel Albuquerque tinha ido aos arames: “Não tem base legal, mas as pessoas estão a cumprir e isso é o que interessa”. Saiba o Presidente que muitos madeirenses usam máscara por terem bom senso e não o fazem por carneirismo, mas sim pela saúde colectiva.

A este propósito as centrais de propaganda e de perfis falsos locais deviam ter demonstrado outra elevação na guerra das máscaras. Como escrevemos em Agosto, não faz sentido continuar dividir e ostracizar madeirenses, só porque uns são contra a forma compulsiva como tudo se decide nesta terra e outros estão a favor de uma atitude preventiva legítima, mesmo que, uns e outros entendam que o bem maior é a vida.

Por este andar ficaremos orgulhosamente sós, cada vez mais isolados, sem fiadores, nem cúmplices. E não merecemos, pois também somos bons, mesmo que alguma inveja nacional transforme alguns méritos em arrogância.

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