Madeira

Bispo do Funchal apresenta 1.º livro da colecção inédita do património religioso da Calheta

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O Centro de Estudos e Desenvolvimento, Educação, Cultura e Social da Calheta lança uma colecção inédita sobre o património religioso do concelho da Calheta. O primeiro volume é referente à freguesia do Arco da Calheta, nomeadamente às paróquias do Loreto e do Arco da Calheta, intitula-se “Arco da Calheta, património religioso e alguns aspectos do quotidiano”, uma investigação do professor Paulo Ladeira.

O lançamento será no próximo dia 26 de Junho, pelas 18 horas, na igreja paroquial do Arco da Calheta, e faz parte das comemorações dos 517 anos de elevação a Vila do Município da Calheta. A apresentação será feita pelo bispo do Funchal, D. Nuno Brás, e pela historiadora do CLEPUL, Cristina Trindade.

No livro, ao longo de 25 capítulos e 336 páginas, ilustrado com fotografias e um mapa, é apresentado o resultado da investigação ao património religioso, edificado na freguesia, desde os finais do século XV até à actualidade. Refira-se que um dos capítulos do livro é de autoria do professor Manuel da Silva Leça e intitula-se “Arco da Calheta – costumes religiosos e sociais nesta freguesia, nos anos de 1930 a 1950”.

O Arco da Calheta, inicialmente conhecido apenas por Arco, assumiu um papel importante nas primeiras décadas de povoamento, fixando-se algumas pessoas importantes e abastadas e que se dedicaram à produção e comércio do açúcar, do vinho e outros produtos. Estas em conjunto com a população, as entidades eclesiásticas e governamentais proporcionaram a edificação de cerca de vinte capelas, um número considerável para uma freguesia rural.

Ao longo do livro, em capítulos individuais, são analisadas essas capelas, metade delas já demolidas. Especial relevo é dado à primitiva capela de São Brás que esteve na origem da paróquia e freguesia do Arco da Calheta, à antiga igreja de São Brás e à nova e actual igreja. Outro especial destaque é dado à capela de N.ª Sr.ª do Loreto que, serve também de sede paroquial desde a década de 60 do século XX e, preserva alguns alguns elementos de arquitectura manuelina.

Como refere o autor, na introdução, realizou-se uma “investigação aprofundada sobre os templos existentes na actualidade e os que já foram demolidos, abordando os mais variados aspectos, desde as datas de fundação, instituidores, dados da construção, mestres envolvidos, registo e descrição das obras existentes nas várias vertentes do património desde a arquitectura, talha, pintura, azulejaria e ourivesaria”. É ainda abordado “o aspecto religioso da comunidade, registando os párocos em actividade, as confrarias, as devoções, os aspectos relacionados com a administração dos sacramentos, principalmente dos baptismos, casamentos e dos relacionados com a morte”.

Além do património religioso é feito um enquadramento histórico à freguesia do Arco, com principal incidência entre os séculos XVI e XIX, focando alguns aspectos como a geografia, a toponímia, a população, as alcunhas, as profissões, e alguns dos bens como as propriedades, os animais, os utensílios domésticos, o vestuário e os adereços em ouro e prata.

Segundo o bispo do Funchal, refere no prefácio: “as expressões culturais que constituem o património religioso de uma comunidade falam da fé, convidam à fé e não podem deixar de ser integradas, hoje ainda, no culto cristão. Caso contrário tornar-se-ão realidades sem sentido e, de facto, deixarão de ser assumidas como “património” (realidade nossa e herdada mas que nos serve para a vida). Ficarão reduzidas a peças mortas que bem podemos esquecer e deixar que destruam”. Acrescenta ainda que “uma comunidade só defende o seu património, e em particular o seu património religioso, se entender que ele é ainda hoje expressão de vida, da sua vida, do seu ser. Ninguém defende pedras, pinturas ou sons”, e que este livro “constitui um instrumento precioso para que este património de edifícios e de cultura viva possa ser interpretado e encarado por todos como realidade viva, que diz respeito à vida de todos e no qual esta se expressa. E, mais ainda, é um instrumento para nos deixarmos interpelar pelo Deus que continua a assumir as realidades do nosso existir (das mais quotidianas às mais sublimes) como uma verdadeira “encarnação” e convite ao nosso encontro com Ele”.

Quanto ao professor catedrático José Eduardo Franco, no posfácio, considera que este livro é um contributo e um investimento “que urge realizar cada vez mais de forma a concretizar a “política de memória e de cultura” nas nossas sociedades do século XXI, que, sendo cada vez mais globais, precisam de se tornar glocalizadas. Só no processo a que chamamos de “glocalização”, ou seja, abrir-se ao global, mas sem esquecer a valorização do local, é que se poderá atenuar os efeitos mais perniciosos de uma homogeneização mundialista que empobrece a diversidade cultural e identitária. Só na diversidade e pluralidade das criações humanas de cultura, língua e património a humanidade continuará humana e criadora de hospitalidade na relação harmónica com o meio ambiente”.

O presidente do Centro de Estudos, Eugénio Perregil, refere que esta colecção é inédita e que “o património cultural do concelho da Calheta constitui todo um legado que importa investigar, preservar e divulgar. Fruto de seis séculos de História, a sua riqueza e diversidade expressam-se, de modo especial, no âmbito do património religioso, material e imaterial, sendo um contributo deste Centro de Estudos da Calheta para a comemoração da efeméride dos 600 anos da descoberta das ilhas do Porto Santo e da Madeira”.

Este primeiro volume da colecção Património Religioso, do Centro de Estudos e Desenvolvimento, Educação, Cultura e Social da Calheta, conta com o apoio das paróquias do Loreto e do Arco da Calheta e da Câmara Municipal da Calheta.