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E agora?

E agora, o que resta? O resto do caminho do fim da Autonomia. É a isso que se dedicam PSD e CDS de cada vez que gritam que Lisboa tem culpa

O tempo das eleições passou e este é o da governação. É certo que muitas vezes perdemos todos tempo a mais com a politiquice dos casos e dos individualismos e menos com a política que realmente interessa: a das propostas, das ideias e das medidas que fazem a diferença na vida das pessoas. É isso que nos dizem os números, sempre crescentes, sempre históricos, da abstenção e o afastamento que diariamente sentimos - nós, os políticos - quando abordamos a vida política com a população em geral, que há muito tempo deixou de acreditar em nós. Se há coisa que devemos todos fazer é passar das palavras da proximidade às pessoas aos actos de quem é capaz de reconhecer verdadeiramente as suas dificuldades, necessidades e aspirações, criando novas soluções.

E agora, será que somos? O que o primeiro dia de debate do Programa do Governo diz é precisamente que aqueles que foram eleitos para governar e os que não foram mas a si se juntaram para que também pudessem ser, de tão preocupados que andaram em governar-se nos 50 dias, longos dias, que decorreram entre a sua eleição e a apresentação do dito Programa, esqueceram-se do fundamental - e o fundamental não é chamar nomes, gozar, desvalorizar e desqualificar a oposição, como fez, num triste e infeliz espectáculo, Miguel Albuquerque ao longo de toda a manhã, no velhinho registo de outros tempos que alguns julgavam findados, mas que nem a perda da maioria serviu para atenuar, porque logo houve quem lhes acorresse para, até do fim desse mal, os salvar. O fundamental é, ou melhor, seria, discutir ideias novas para problemas velhos.

E agora, que ideias ficam? Nenhuma. O que ficam são perguntas sem resposta, problemas a mais sem solução aparente. A mudança de postura e de discurso durou o mesmo tempo que o da arrumação dos novos gabinetes e já se viu ao que vem este novo Governo velho: na dúvida, a culpa continua a ser da República. Até quando se rescinde um contrato entre a Região e um operador, a culpa, claro está, é de quem nada teve a ver com esse processo e decisão. O tempo e as eleições passam, 43 longos anos de mais do mesmo, mas os problemas não: continuam lá, por resolver, com a agravante de alguns voltarem, agora que passaram as eleições, a acentuear-se. É uma Economia que, como a dívida de outros tempos, cresce sem se ver e um Turismo que continua a cair a valer.

E agora, o que resta? O resto do caminho do fim da Autonomia. É a isso que se dedicam PSD e CDS de cada vez que gritam que Lisboa tem culpa, porque tem a solução na mão; quando dizem que é à República que cabe, de novo e afinal, pagar Saúde e Educação; quando dizem que contratos-programa com os municípios jamais, porque quem decide quando, onde e como gastar tudo, o seu e o dos outros, é o Governo Regional; quando roubam às Câmaras, literal e deliberadamente, o dinheiro que é dos seus munícipes, do IRS, do IVA e, agora, até da taxa turística, porque nunca houve e nunca haverá dinheiro que chegue para pagar a loucura laranja a que agora se acrescentou o azul. O que resta é um novo Governo velho, com a narrativa de sempre: sem ideias, sem soluções e sem engenho, a não ser para a politiquice do costume.

E agora? Não sabendo, pelo menos deixem as Câmaras Municipais governar. Deixem os Municípios em paz, em muitos sítios a continuarem a fazer o que nunca fizeram, pagando o que lhes devem, não lhes levando o que lhes resta e não constituindo inenarráveis forças de bloqueio à evolução. Serem capazes de fazer isso já seria o início de qualquer coisa nova, com menos politiquice e mais política a valer.