Trabalho há, mas a custos controlados

Desde 2011 que não havia tantas pessoas com trabalho na RAM, mesmo com a Administração Pública a perder pessoal. Os que ficam estão a ganhar melhor. No privado, há mais trabalho, mas os ganhos demoram a equiparar-se

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Desde 2011 (quando se iniciou uma nova série estatística) que não havia tanto trabalho na Madeira. O problema é que esse aumento do emprego não se reflecte na qualidade (em remunerações ou custo do trabalho para o empregador) do mesmo, uma vez que face a 2012 os salários baixaram 3,29%, embora face a 2012, ano do início da verdadeira crise laboral na Região Autónoma, com a dupla austeridade imposta pelo PAEF, o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem tenha aumentado 1,7 euros.

No final de 2017 havia mais de 118 mil pessoas empregadas na Região Autónoma da Madeira, o numero mais alto desde 2011, altura em que havia 117,9 mil pessoas com trabalho e uma recuperação assinalável face aos números dramáticos do desemprego (ou falta dela), que chegou a ser de menos 10 mil do que actualmente (108,8 mil em 2013). Curiosamente a faixa etária da população que melhor recuperou da crise foi a que vai dos 45 aos 64 anos, habitualmente designada como nova demais para a reforma e velha demais para novo emprego, pois actualmente totalizam quase 50 mil efectivos, quando em 2012 chegaram aos 41,7 mil.

Refira-se que também a ligação dos trabalhadores por conta de outrem aos seus empregadores atinge hoje 99,3 mil com contrato a tempo completo e 19,5 mil a tempo parcial, quando ao início da série estatística, em 2011, eram quase 101 mil com contrato com tempo completo e em 2013 atingiram o valor mais baixo para 89,8 mil. Enquanto a tempo parcial, este é o segundo valor mais alto, só ultrapassado pelos 19,9 mil de 2014.

Por conta de outrem, no final do ano passado havia também 98,6 mil trabalhadores (10 mil que em 2013, com 88,9 mil) e os restantes 10,2 mil por conta própria. Da maioria que trabalhava para outro (inclui aqui os trabalhadores do privado e do público), 77,2 mil tinham contrato sem termo (melhoria significativa e já perto dos resultados de 2011, que tinha 79,1 mil nesta situação mais confortável contratualmente) e e 18,3 mil emprestavam a sua força com contrato com termo (o segundo valor mais alto em sete anos, melhorando face ao máximo de 2016, com 18,8 mil).

Refira-se que só na Administração Pública Regional havia 19.105 trabalhadores no final do ano passado, 17.475 dos quais com contrato por tempo indeterminado e 779 com contrato a termo.

Aqui regista-se uma diminuição de trabalhadores da Função Pública da Madeira nos últimos anos, valores impostos pelo já referido PAEF (Programa de Ajustamento Económico e Financeiro), uma vez que no final de 2011 eram 21.354 pessoas.

No último ano, com a melhoria das condições financeiras e maior autonomia para contratar pessoal, a ARM aumentou o número de funcionários, mas só se sentiu esse efeito no último trimestre, denotando-se um aumento considerável de trabalhadores com contrato a prazo (+13,4% entre Setembro e Dezembro de 2017).

Cada vez mais virados para os Serviços

Por sector de actividade, no final do ano passado havia 13 mil trabalhadores ligados aos sectores da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca, 14,9 mil na indústria, construção, energia e água e 90,9 mil nos Serviços, dos quais 33,1 mil no comércio e reparação de veículos, alojamento e restauração e 33,8 mil na administração pública e defesa, segurança social, educação, saúde e actividades de apoio social.

Constatando os números dos últimos anos, percebe-se que a economia regional vira-se cada vez mais para os Serviços que, em 2012 tinha 81,8 mil pessoas empregadas de um total de 111,5 mil. Se olharmos aos outros sectores, nesse ano tanto a Indústria e afins (15,6 mil) como a Agricultura e relacionados (14 mil) tinham mais trabalhadores, o que significa que a recuperação do trabalho neste curto e médio prazo fixou-se quase em exclusivo na área dos Serviços, mais precisamente nos dois subsectores que mais dão trabalho na Região: o comércio e reparação de veículos; alojamento e restauração chegou a ter 25,8 mil pessoas ao serviço em 2014 e os empregados na administração pública e defesa, segurança social, educação, saúde e actividades de apoio social ascendiam a 31,5 mil em 2012, recuperaram aos 35,1 mil em 2016, mas um ano depois fixaram-se nos já referidos 33,8 mil.

Salários não acompanham economia

Com uma economia em rota ascendente - neste momento o indicador regional de actividade económica já vai em 56 meses consecutivos a crescer, basicamente desde Junho de 2013 -, não se assiste a uma melhoria clarividente nos salários (remunerações base e ganhos médios mensais) dos trabalhadores.

Os números são claros e não deixam grandes dúvidas, sobretudo se tivermos em conta consideração que, por exemplo, os trabalhadores da Função Pública melhoraram tanto a remuneração base como os ganhos médio mensais (com extras), que neste caso aumentou em 7,9% face a Janeiro de 2013, enquanto que o Índice de Custo do Trabalho na RAM em 2017 está 3,29% abaixo do que é o valor de referência de 2012, antes do início da crise.

Com uma população estimada no 4.º trimestre de 2017 de pouco mais de quase 135 mil activos, perto de 123 mil dos quais empregados e 12 mil desempregados, além de pouco mais de 117 mil inactivos, a taxa de desemprego atingiu neste último período de três meses do ano passado o valor mais baixo desde o 1.º trimestre de 2011.

No final desse ano, o ganho médio mensal por trabalhador era de 1.049,75 euros, embora o salário mínimo regional fosse de 494,70 € (abrangia cerca de 10% dos trabalhadores). Actualmente, ainda que não haja registos actualizados dos ganhos médios mensais dos últimos dois anos, com o salário mínimo regional fixado para 2018 nos 592 euros, que no início deste ano o Governo Regional calculou abrangeria 11.202 trabalhadores no sector privado e 1.400 no sector público, 9,5% da população activa.