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Um ‘bunker’ que é um centro de memórias da erupção do vulcão dos Capelinhos

Foto DR
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Na ilha do Faial, onde há 60 anos o vulcão dos Capelinhos entrou em erupção, foi construído um centro de interpretação em forma de ‘bunker’, submerso nas cinzas expelidas na ocasião, que é hoje o mais visitado dos Açores.

“O centro, desenhado pelo arquiteto Nuno Ribeiro Lopes [hoje diretor regional da Cultura dos Açores], foi construído com duas principais preocupações: preservar a paisagem do vulcão e incluir o farol dos Capelinhos no processo expositivo”, afirmou à agência Lusa a coordenadora do centro, Salomé Meneses, geóloga de formação.

Cinzento, como a cor da erupção - que começou a 27 de setembro de 1957 e terminou a 24 de outubro de 1958 -, o centro tem um grande ‘hall’, onde um “cálice invertido” simboliza esta e todas as outras erupções que formaram as nove ilhas do arquipélago.

No chão, é visível o recorte do Faial e é no centro desta “ilha” -- onde está o vulcão central da Caldeira - que se ergue o “cálice invertido”, representando uma coluna eruptiva.

A história da formação da Terra conta-se, depois, num filme de 12 minutos, que antecede a exposição temporária.

“Aqui temos três coleções de rochas e minerais, duas delas exclusivamente do vulcão e uma de rochas e minerais de todo o mundo”, explicou Salomé Meneses, adiantando que a primeira é originária do antigo núcleo museológico do vulcão.

A segunda coleção é do faroleiro Tomaz Pacheco da Rosa e a última do professor José Benarús, que inclui cerca de 2.600 exemplares de rochas e minerais de todo o mundo, referiu a responsável.

O visitante segue depois para a exposição interpretativa, que visa dar conhecer “o antes, o durante e o depois da erupção”, e pode descobrir os faróis do arquipélago, incluindo o dos Capelinhos e o da Ribeirinha (este último, também na ilha do Faial, encontra-se por reconstruir desde o sismo de 1998).

Há ainda uma animação holográfica da erupção dos Capelinhos, e painéis e maquetes que revelam “os diferentes comportamentos do vulcão”.

São mostradas as fases submarina, com a projeção de cinza e vapor de água, e terrestre do vulcão dos Capelinhos. Esta última foi caracterizada por períodos mais efusivos (escoadas lávicas) e explosivos (emissão de piroclastos).

“A fase terrestre foi precedida, na noite de 12 para 13 de maio de 1958, de cerca de 450 sismos de elevada intensidade, que destruíram mais de mil habitações e obrigaram à retirada de cinco mil pessoas das freguesias de Capelo e Praia do Norte”, afirmou Salomé Meneses.

Antes, em outubro de 1957, já ocorrera a evacuação de dois lugares da freguesia do Capelo, Norte Pequeno e Canto.

Fotografias mostram depois os dois lados da mesma História: destruição de casas, tendas que albergam desalojados, bens espalhados ao longo de estradas, cientistas a recolher dados, crianças a brincarem nas cinzas do vulcão e a habitual curiosidade da população atraída pelo fenómeno.

“É o belo horrível como alguém descreveu”, realçou a coordenadora.

Na sala “Vulcões do mundo”, onde está documentada, entre outras, a última erupção nos Açores, a da Serreta (1998-2001), uma erupção submarina a cerca de nove quilómetros a norte da ilha Terceira.

Já na sala “Açores”, um documentário revela a formação das ilhas açorianas, e ecrãs, painéis e amostras de rochas exibem as particularidades geológicas de oito ilhas dos Açores, do Corvo a Santa Maria, com exceção do Faial.

“É uma história de oito milhões de anos, estando aqui retratados todos os exemplos do vulcanismo açoriano”, destacou.

Com a sala “Faial” termina a visita à área expositiva do Centro de Interpretação do Vulcão do Capelinhos, que custou cerca de sete milhões de euros, foi inaugurado em agosto de 2008 e já recebeu 230 mil visitantes.

A visita termina com a observação da paisagem e a possibilidade de subida ao farol, com 140 degraus.

O vulcão fez a ilha crescer 2,4 quilómetros quadrados, tornando-se o território mais novo de Portugal. Estima-se que o Faial tenha perdido um terço da população com o êxodo decorrente da erupção.