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Que não seja debalde

Tinhas razão Paulo. Ainda

“Estás consciente de que vais meter-te num balde de dívidas?” – Perguntava eu ao Paulo quando este, à mesa de uma esplanada na zona da Ajuda, convidava-me para integrar a sua lista à Câmara Municipal do Funchal.

Principiava o Verão de 2013 e eu aceitava o desafio proposto pelo Paulo por uma questão de coerência com o meu discurso de incentivo à intervenção cívica e para que esta não se resumisse à vacuidade da crítica diletante. Ademais, sempre defendi o exercício de uma cidadania participativa, de responsabilidade e de compromisso, da qual faço exemplo para os meus filhos na esperança de que a sua geração colha os frutos desta “mudança” sob a forma de uma cidade mais livre, mais justa e mais solidária. Contudo, encontrando-me em décimo lugar da lista, nada faria prever os desenlaces do destino que, à luz daquelas palavras iniciais, ironicamente me entregaram a batuta financeira da capital da Madeira.

De vários quadrantes choviam prognósticos sobre a curta longevidade do primeiro executivo que gere os destinos da capital da Madeira após de 40 anos de poder exclusivo de um único partido: “seis meses”, “um ano”, “até ao Orçamento”, “depois das Regionais”. Percorridos que estão mais de três anos de governação, fica claro que, qual Mark Twain, as notícias sobre a morte prematura da coligação Mudança no Funchal foram manifestamente exageradas. A importância do diálogo democrático e da procura laboriosa de soluções de compromisso como instrumentos de gestão executiva de uma cidade, foi claramente subestimada, sendo compreensíveis os diagnósticos fatalistas de algumas figuras habituadas ao estilo autocrático.

Há uma ideia transversal na sociedade em linha com uma teoria popularizada pelo economista Milton Friedman, no seu livro “Liberdade para Escolher”, sobre a ineficiência de quando gastamos o dinheiro dos outros nos outros. Assume-se que quem gere um orçamento público não tem preocupações, nem com a quantidade de dinheiro gasto, nem com a qualidade da sua aplicação, criando ineficiências e conduzindo as instituições a uma espiral de endividamento para a qual todos os argumentos são válidos. Este postulado foi validado durante muitos anos no Funchal, onde os governantes catapultaram a dívida municipal para um valor superior a 110 milhões de euros (mais de 1000€ por munícipe), apesar do forte auxílio financeiro proporcionado pelos saudosos contratos-programa com o Governo Regional.

No entanto, mesmo sabendo que quem arruma a casa nunca é tão popular como quem faz a festa, este mandato fica marcado por uma ruptura com essa insistência na irresponsabilidade. Em apenas 40 meses, estancou-se o aumento do endividamento, reduziu-se a dívida acumulada, paga-se atempadamente aos fornecedores, diminui-se a carga fiscal sobre os funchalenses, regressou-se ao investimento público de forma criteriosa e inteligente e criaram-se condições para a promoção do investimento privado. Em suma, apesar do continuado ‘bullying’ financeiro infligido pelo Governo Regional, o Funchal caminha a passos sólidos no sentido de um equilíbrio sustentável, a nível económico, social e ambiental.

Hoje, recordo com orgulho a resoluta resposta do Paulo, eivada de uma fé inabalável nas soluções, característica intrínseca dos líderes: “E quem melhor do que nós para despejá-lo?”

Tinhas razão Paulo. Ainda cá estamos e o balde já vai a meio.