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Desfiles oficiais das escolas de samba do Rio de Janeiro começaram há 85 anos

Foto Arquivo
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As escolas de samba surgiram timidamente com os seus elementos a cantar e dançar samba, um ritmo novo, que desceu há 85 anos dos morros do Rio de Janeiro no carnaval para os desfiles oficiais.

Desde o século XIX, grupos organizados de foliões já existiam marginalmente entre o entrudo (brincadeira de lançar coisas, herdada da cultura portuguesa) e os luxuosos bailes de máscara, até que no dia 07 de fevereiro de 1932 homens e mulheres pobres do Rio de Janeiro fizeram o primeiro desfile oficial das escolas de samba no carnaval do Brasil.

A data também marca o uso do próprio termo “escola de samba” para descrever os participantes nos desfiles, segundo especialistas consultados pela Lusa.

Felipe Ferreira, autor de livros sobre a cultura popular brasileira e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), contou que este primeiro concurso foi emblemático, na medida em que representou um reconhecimento público da força de um ritmo que já embalava as periferias.

“O primeiro desfile oficial foi organizado pelo jornal Mundo Esportivo, comandado pelo jornalista Mário Filho, que organizou, divulgou, formulou regras e escolheu um júri de intelectuais. Pela primeira vez o termo ‘escolas de samba’ foi oficializado na imprensa”, explicou.

Segundo o especialista, o facto de os jurados serem pessoas respeitadas socialmente, na maioria intelectuais, deu um aval aos grupos que se tornariam símbolo do carnaval carioca.

“Eram pessoas pobres que desfilaram a cantar e a batucar vestidas com as suas melhores roupas, não existiam fantasias como as que vemos hoje. No entanto, este aval dado pela intelectualidade ao pessoal dos morros fez com que eles começassem a surgir”, frisou.

O professor da UERJ destacou que os grandes desfiles como conhecemos hoje começaram, de facto, a existir partir da década de 1950, quando houve uma nova aproximação da classe média carioca às comunidades das escolas de samba.

“Deste tempo em diante, os desfiles tornaram-se mais fáceis de entender. Os enredos começaram a ser contados quase como se fossem uma ópera”, destacou.

Fabio Fabato, jornalista e autor de diversos livros sobre a história das escolas de samba do Rio de Janeiro, lembrou que o género musical samba era, no início do século passado, reprimido pela polícia por ser algo marginal.

“Os sambistas não viam o próprio valor. Eles precisaram de uma chancela branca da classe média. Esta chancela veio com os desfiles oficiais [das escolas de samba]. Pouco tempo depois, o jornal O Globo organizou desfiles, até que ainda na década de 1930 o Governo viu a importância do que estava a acontecer e assumiu a tarefa de organizar a festa”, destacou.

Sobre a importância da cultura portuguesa para o carnaval do Rio de Janeiro, o jornalista destacou que a organização das escolas de samba tem forte relação com as procissões católicas levadas pelos colonizadores do Brasil.

“As escolas de samba nascem de uma lógica miscigenada. O desfile passa como um cortejo. Vemos a influência das procissões católicas nos estandartes, nas bandeiras e na adoração das imagens, todos estes são costumes trazidos pelos portugueses”, argumentou.

“As escolas de samba parecem um corpo que anda ‘portuguesamente’ ao ritmo de uma batida da África”, referiu.

Algumas figuras nascidas em Portugal também participaram na fundação de escolas de samba do Rio de Janeiro.

“A Unidos da Tijuca teve, creio, um português [fundador], Bento Vasconcelos. (...) Uma das versões sobre as cores da escola é de que ele teria resolvido homenagear a Casa Real de Bragança”, comentou Fabio Fabato.

Já Felipe Ferreira, professor da UERJ, lembrou que a Académicos do Salgueiro foi fundada num lugar que tem o nome de um imigrante português chamado Domingos Salgueiro. Ele era dono do terreno onde nasceu a comunidade original da escola, o morro do Salgueiro.