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Vulcão dos Capelinhos deu terra nova a Portugal, mas resta apenas um quarto

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A erupção do vulcão dos Capelinhos, nos Açores, levou à acumulação de 174 milhões de metros cúbicos de material e acrescentou a Portugal 2,4 quilómetros quadrados de área, que a erosão reduziu a um quarto em 60 anos.

“A acumulação dos 174 milhões de metros cúbicos de material emitido levou à criação de uma paisagem única e com características muito específicas. O cone atingia uma altura de cerca de 160 metros e tinham sido acrescentados à ilha do Faial cerca de 2,4 quilómetros de área, as Terras Novas”, explicou à agência Lusa o diretor do parque natural da ilha, João Melo.

Segundo o diretor, “quando termina a erupção dos Capelinhos, termina o processo de construção de paisagem, iniciando-se, automaticamente, um processo de destruição” por agentes externos, como “o mar, o vento e as chuvas, que têm sido os principais responsáveis pela erosão deste cenário vulcânico”.

O vulcão, assinalou, está “numa zona na ponta oeste da ilha do Faial, onde é frequente haver ventos com mais de 100 quilómetros/hora” e “grande intensidade de chuva”, além de ser um território no mar.

“As taxas de erosão para a recente paisagem do vulcão dos Capelinhos foram extremamente elevadas nos anos que se seguiram à erupção, sendo este processo mais eficiente a oeste e chegando a atingir os 300 metros por ano para este quadrante em 1959”, exemplificou.

Já “entre 1976 e 1981, as taxas de erosão eram de cerca de seis metros/ano”, referiu, observando que foram extremamente elevadas nos anos que se seguiram à erupção, mas que tenderam a diminuir ao longo dos tempos.

“Esta diminuição nas taxas de erosão deve-se a diversos fatores, sendo dois deles mais evidentes. Em primeiro lugar, deste processo erosivo resulta a acumulação de materiais arrancados à paisagem, formando praias de calhau e de ‘areia’ [cinza] que cobrem as margens junto ao cone principal, atenuando, assim, o efeito das ondas junto à base da falésia e abrandando o processo erosivo”, declarou João Melo.

A isto acresce “o facto das cinzas vulcânicas se alterarem ao longo do tempo através de um processo denominado palagonitização, do qual resulta a sua compactação e, consequentemente, uma nova rocha, o tufo, mais resistente à erosão”, esclareceu.

João Melo informou que “nos últimos anos a erosão registada é de 1 a 1,5 metros/ano”, para concluir que, “da paisagem inicial formada por este vulcão, resta apenas 0,5654 quilómetros quadrados”.

“A intensidade da erosão tem vindo a reduzir-se e agora esperemos que ela seja tão lenta que ainda se consiga ter algum território [novo] durante muitos anos”, acrescentou.

A erupção do vulcão dos Capelinhos começou a 27 de setembro de 1957. Um ano depois começou a perder força e, a 24 de outubro de 1958, ocorreu a última emissão de lavas e o vulcão adormeceu, segundo o sítio na Internet “Sentir e interpretar o ambiente dos Açores”, da Direção Regional do Ambiente.

O mesmo ‘site’ acrescenta que a erupção provocou “avultados prejuízos materiais em habitações das freguesias limítrofes”, assim como a “inutilização dos campos de cultivo, cobertos por um espesso manto de cinza”, mas não houve uma única vítima mortal.