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Catalunha vista de cá...

Com a excepção das Baleares e das Canárias, as comunidades autónomas não se justificam

A vontade pela independência da Catalunha em Espanha é muito antiga e resulta de uma confusão histórica que remonta ao século VII . À semelhança de o que aconteceu um pouco por todo o mundo, a Espanha que hoje conhecemos resultou da junção de vários reinos e principados que mudaram diversas vezes de mãos aos longos dos séculos. O principal factor fraccionante entre a Catalunha e o resto da Espanha acontece numa das guerras de sucessão espanhola, que era apoiada por duas casas imperiais rivais, a Casa de Bourbon e a Casa de Habsburgo. Acontece que o então Principe da Catalunha apostou no cavalo errado e acabou virando as costas ao resto de Espanha. Esta posição tomaram também outras regiões que tinham o apoio da Casa de Habsburgo e que acabam derrotados com o famoso cerco de Barcelona de 1714 que pôs fim à resistência dessas regiões, e que culmina em 1716 com a coroa a estabelecer definitivamente um estado único sobre as leis de Castela.

A História é interessante do ponto de vista dos enredos geopolíticos e dos interesses que as principais famílias imperiais europeias tinham na Península Ibérica. Mas será que a riqueza histórica de um país ou de uma região pode ser usado como justificação para apoiar a ambição de um grupo de políticos? Políticos que como Puigdemont (actual presidente da Catalunha) andam a usar a chamada “identidade específica da Catalunha”, a sua língua, a sua cultura e as suas “singularidades” para obter vantagens relativamente ao restante território. Quanto a mim, o grande erro deu-se logo após a morte de Franco, com a constituição das Regiões Autónomas em Espanha. Eu sou claramente a favor da autonomia, mas quando existem diferenças significativas a nível geográfico que resultem em condições socioeconómicas especiais, como é o caso das Regiões Autónomas em Portugal. Mas em Espanha, com a excepção das Baleares e das Canárias, as comunidades autónomas não se justificam, porque foram determinadas unicamente por razões históricas. Espanha tem 17 Regiões Autónomas, algumas das quais são equivalentes a uma pequena cidade europeia com Lisboa. Ora, isto não faz sentido nenhum, porque não há diferenças significativas que não se consigam facilmente atenuar que justifiquem a existência de tantas comunidades autónomas. Para não falar do disparate que devem gastar com os 17 parlamentos e toda a máquina politica que se estará a alimentar dessas mesmas autonomias.

O que está a acontecer na Catalunha é simplesmente o resultado de uma escalada no que tem sido o processo de crescimento autonómico dessa região. O governo central tem dado tantas benesses e aberto tantas excepções, que a única coisa que lhes resta pedir agora é a independência. Mesmo assim, dizem sentir-se oprimidos e descriminados. O engraçado é que olhando para a história económica da região, verificamos que foi justamente desde 1714, quando começa a opressão sobre a soberania Catalã e maior controlo por parte do estado Espanhol, que a Catalunha começa uma nova senda de prosperidade, tornando-se inclusivamente numa das regiões mais industrializadas de Espanha. Fazer parte do conjunto foi sobejamente benéfico para uma Catalunha que parece não reconhecer as ajudas e concessões feitas pelos sucessivos governos centrais.

Mas a missa ainda vai no adro e tudo pode acontecer. O que me parece é que a independência da Catalunha pouco afectaria Espanha, mas seria certamente um suicídio económico e financeiro para a Catalunha. Logo à partida ficariam fora da Zona Euro. O PIB iria cair significativamente pois verificar-se-ia uma fuga de todas as grandes empresas e bancos para Madrid ou outra zona de Espanha. O sector financeiro não se poderia dar ao luxo de perder o acesso à liquidez do Banco Central Europeu e de virar as costas a um mercado de mais de 40 milhões de habitantes. Puigdemont parece não ver nada disto, porque estará concerteza inebriado com o poder que poderáganhar com uma nova Catalunha independente.