Análise

O que queremos para o futuro?

1. Que futuro nos espera? Para onde caminha Portugal? Vamos no caminho da igualdade de oportunidades ou cavamos cada vez mais o fosso entre ricos e pobres?

Vamos a factos: o País está mais modernizado, melhor economicamente, o desemprego diminuiu (apesar de todos sabermos que as estatísticas oficiais escondem muita precariedade) e respira mais confiança. Políticamente a ‘geringonça’ vai funcionando e a um ano de eleições o povo não deverá querer experimentar nova mudança, ainda traumatizado pelo fardo excessivo imposto pela troika. Desde que não sinta os bolsos a saque – apesar de existir uma carga fiscal elevadíssima e uma multiplicação de taxas de taxinhas que oneram a vida do cidadão – a tendência instituída é não entregar o poder a outra força partidária, quando tudo corre aparentemente menos mal e vai havendo dinheiro para umas férias e idas ao restaurante. Um amigo de longa data, com experiência governativa, sempre me disse: “O povo pensa melhor com os bolsos do que com a cabeça”. Verdade!

Hoje é Dia de Portugal, a nação com as fronteiras mais antigas da Europa, terra de emigrantes e de uma população ainda, na sua grande maioria, de parca instrução.

Somos unânimes quando afirmamos que é necessária mais competitividade, mais formação, mais participação. Recentemente o país viu-se envolvido, porque não se debateu de forma esclarecedora, na questão da eutanásia, que pertence aos famigerados temas fracturantes. Independentemente de quem concorda ou não com a medida, ainda não vislumbramos uma revolta social pela urgente melhoria dos cuidados paliativos, pela exigência de um melhor serviço público de saúde, por uma rede de lares eficaz e de medicina ao domicílio, já que cada vez mais vivemos mais anos.

Temos outras frentes de combate que merecem reflexão e acção urgente, como a questão climática, da prevenção de incêndios, do combate sério à corrupção que mina todas as áreas de actividade da nossa sociedade.

E precisamos de mais para sermos mais felizes. Segundo o relatório divulgado pelas Nações Unidas ocupámos o 77.º lugar da tabela mundial da Felicidade. O nosso admirável país, de brandos costumes, com mais luz solar e vida social dos que estão no topo da lista (Finlândia, Noruega e Dinamarca) está nos antípodas no retorno que os habitantes daqueles países nórdicos têm, como troca da elevada carga fiscal a que são expostos. É claro que não temos petróleo como dois deles, mas também nunca conseguimos edificar um sistema fiscal equitativo, nem promovemos as reformas essenciais ao país.

2. Por cá o retrato traçado pela insuspeita ‘Pordata’ mostra uma Região com poucos estudos, com muito abandono escolar e com muita população inactiva. Não podemos fechar os olhos a esta realidade arreliadora. É inadmissível termos 65% da sociedade com uma escolaridade tão baixa, com jovens a abandonar a escola por falta de suporte familiar. O poder político tem de intervir rapidamente se não quisermos ficar, miseravelmente, na cauda do país. Os partidos têm de se entender e ter a coragem de assumir compromissos a longo prazo, que frutifiquem.

3. O Presidente da República condecora neste dia portugueses ilustres e instituições marcantes ma vida do país. Um dessas condecorações ocorreu em 2005 e agraciou o madeirense Jorge Jardim Gonçalves, ex-banqueiro e homem ligado ao Opus Dei, que aufere uma pensão de 167 mil euros por mês. O caso, dirimido em tribunal, até pode ser legal, mas é imoral. A todos os níveis. É meritório termos portugueses de excelência em todas as áreas, pessoas capazes de operar a diferença. Mas num país onde o salário mínimo ainda é tão raso não é admissível que um ex- responsável de um banco intervencionado pelo Estado, aufira uma reforma milionária. Chegou a ser condenado a dois anos com pena suspensa por crime de manipulação de mercado e falsificação de documentos, para além a várias multas no âmbito do escândalo da utilização de offshores para comprarem acções do banco, ocultando prejuízos.