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Um morto e mais de 200 feridos em Caracas durante protestos

A oposição da Venezuela afirmou que mais de 200 pessoas ficaram feridas na quarta-feira em diferentes localidades de Caracas na sequência da repressão dos protestos que resultaram em mais uma vítima mortal no mesmo dia.

“Há mais de 200 feridos pela brutal repressão de hoje” (quarta-feira), disse o deputado opositor José Manuel Olivares, aos jornalistas.

A declaração surge depois de o Ministério Público (MP) ter informado da morte, no mesmo dia, de um adolescente de 17 anos, a qual terá sido causada, segundo o mesmo deputado, pelo impacto de uma granada de gás lacrimogéneo no peito, atirada pelas forças de segurança.

O MP comunicou, através da rede social Twitter, que foi designado um procurador para investigar a morte do adolescente, ocorrida durante uma manifestação no município de Chacao, a leste de Caracas.

Segundo José Manuel Olivares, um dos feridos terá perdido um olho após ter sido atingido por uma granada de gás lacrimogéneo, havendo ainda a registar vários casos de traumatismos e ferimentos causados por balas de borracha.

Os venezuelanos queixam-se de que as forças de segurança estão a aumentar os níveis de repressão contra manifestantes pacíficos e que têm inclusive impedido a realização de marchas em zonas populares, como El Valle e La Vega, onde a população insiste que vai manter a resistência civil.

Segundo a imprensa local, pelo menos 30 pessoas ficaram feridas em La Candelária, no centro de Caracas, quando centenas de cidadãos decidir protestar contra a convocatória da Assembleia Constituinte, cuja data da eleição vai ter lugar em 30 de julho, como confirmado na quarta-feira pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Em El Paraíso, a sudoeste da capital, as forças de segurança tentam há três semanas reprimir os manifestantes, que insistem em sair para as ruas, tendo nalguns casos sido ameaçados por grupos de motociclistas armados, afetos ao regime, que a oposição acusa de atuarem sob a proteção das forças de segurança.

Um funcionário da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) foi ferido, elevando para dois o número de oficiais feridos em confrontos com os manifestantes.

A repressão teve lugar um dia depois de o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, ter afirmado publicamente que os funcionários das forças de segurança que não sigam as instruções do Estado terão que “assumir responsabilidades”.

“Não quero ver nem mais um guarda nacional a cometer uma atrocidade na rua”, disse, durante um evento a favor da Assembleia Constituinte, proposta pelo Presidente Nicolás Maduro.

A Venezuela encontra-se mergulhada numa grave crise política que opõe o Presidente do país, Nicolás Maduro, ao parlamento, dominado pela oposição.

Os protestos intensificaram-se no princípio de abril, com a oposição a convocar manifestações para exigir a destituição de magistrados do Supremo Tribunal devido à sua decisão de assumir as funções do parlamento, dominado pela oposição, a qual foi revertida pouco tempo depois, bem como eleições antecipadas e a libertação de presos políticos e do fim da repressão.

As manifestações, das quais muitas resvalaram em violentos confrontos, agravaram-se precisamente com o anúncio, no início de maio, do arranque do processo de criação de uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição, como a única forma de garantir a paz, numa decisão vista pela oposição como um golpe de Estado e uma forma de Maduro conseguir perpetuar-se no poder.

De acordo com o mais recente balanço oficial, desde o início da onda de protestos foram registados pelo menos 82 mortos.