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Nobel da Paz poderá distinguir esforços de combate à proliferação nuclear

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O prémio Nobel da Paz poderá distinguir este ano os esforços contra a proliferação de armas atómicas, numa altura em que a crise norte-coreana assume contornos de Guerra Fria.

O vencedor do galardão, considerado o mais importante da época Nobel, será anunciado em Oslo nesta sexta-feira, às 11:00 locais (10:00 de Lisboa), dedicando-se, até lá, os especialistas escandinavos em política internacional a fazer prognósticos.

É um jogo necessariamente aleatório já que nada se sabe dos candidatos exceto o número -- 318, este ano -, sendo a sua identidade mantida secreta durante pelo menos 50 anos.

Depois do Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, distinguido no ano passado pelos seus esforços no sentido de restaurar a paz na Colômbia, atribuir o prémio à luta antinuclear seria apropriado, concordam os comentadores.

“O comité Nobel infligiria um duro golpe se desse o prémio ao acordo sobre o nuclear iraniano”, afirmou Asle Sveen, historiador do prémio Nobel, que veria com bons olhos que fossem recompensados o ex-secretário de Estado norte-americano John Kerry e os chefes da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, e europeia, Federica Mogherini.

O acordo, concluído em 2015 com as seis grandes potências (Estados Unidos, Reino Unido, China, França, Rússia e Alemanha), submete o Irão a um regime de vigilância apertada das suas instalações nucleares para garantir a natureza exclusivamente pacífica do seu programa nuclear, em troca do levantamento progressivo das sanções económicas que lhe foram impostas.

Mas o Presidente norte-americano, Donald Trump, ameaça pôr o acordo em causa, correndo o risco de exacerbar as tensões.

“Com a Coreia do Norte igualmente em jogo, é muito importante apoiar as iniciativas que tentam impedir o desenvolvimento e a proliferação de armas nucleares”, observou o diretor do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (PRIO), Henrik Urdal.

O mundo assistiu nas últimas semanas a uma espiral de ameaças belicosas entre Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, após um novo teste nuclear de Pyongyang e o lançamento de vários mísseis.

Uma alternativa poderá ser a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), como sugere o Conselho Norueguês para a Paz.

Uma coligação internacional de organizações não-governamentais, o ICAN promoveu a adoção de um tratado histórico de proibição de armas atómicas, assinado em julho por 122 países -- mas com um alcance essencialmente simbólico, na ausência das nove potências nucleares.

Entre os outros favoritos figuram o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), eventualmente com o seu dirigente, o italiano Filippo Grandi, quando o número de deslocados devido a guerras, violência ou perseguições atingiu, no ano passado, 65,6 milhões de pessoas em todo o mundo -- um novo recorde.

O ACNUR já foi laureado duas vezes, em 1954 e 1981.

Professor da universidade sueca de Uppsala, Peter Wallensteen inclina-se para o médico congolês Denis Mukwege, apelidado como “o homem que repara as mulheres”, pelos cuidados prestados a vítimas de violência sexual.

Apesar de a lista de candidatos não ser conhecida, os seus promotores -- deputados e ministros de todos os países, antigos laureados, alguns académicos -- podem optar por revelar o nome do seu candidato.

Sabe-se, assim, que o papa Francisco e os Capacetes Brancos sírios, voluntários que já salvaram mais de 60.000 pessoas do conflito no país, estão este ano na corrida, encabeçando igualmente as listas de várias casas de apostas.

Outros nomes referidos: a União Americana para as Liberdades Civis (ACLU), o ‘bloguer’ saudita encarcerado Raef Badaui e as vozes independentes na Rússia (Svetlana Gannuchkina) e na Turquia (o diário Cumhuriyet e o seu ex-diretor no exílio, Can Dundar).

Desde o início deste ano, a família Nobel esteve de luto duas vezes: pela morte da sua presidente, Kaci Kullmann Five, vítima de cancro da mama, em fevereiro, e depois pela morte do dissidente chinês Liu Xiaobo, ocorrida em julho, quando se encontrava há apenas algumas semanas em liberdade condicional, sem nunca ter podido ir buscar o Nobel que lhe foi atribuído em 2010.

A comunidade Nobel sofreu também uma grande deceção com a líder birmanesa Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz 1991, criticada mundialmente pela sua inação perante os ataques militares contra os muçulmanos rohingya na Birmânia, que já fez mais de metade dessa minoria refugiar-se no vizinho Bangladesh e foi classificada pela ONU como “limpeza étnica”.