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Despedimento de universitários fomenta “clima de medo” na Turquia

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O despedimento de milhares de universitários desde a tentativa de golpe de Estado de 2016 na Turquia fomentou um “clima de medo” no país, considerou hoje a organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW).

“A repressão promovida pelo Governo turco destina-se aos universitários e atenta contra as universidades”, declarou em comunicado Hugh Williamson, director daquela ONG na Europa e Ásia Central.

Os meios universitários são submetidos a fortes pressões da Turquia, em particular após a tentativa de golpe de Estado de 15 de julho de 2016, seguida por purgas em massa que não pouparam as universidades, em que numerosos professores foram detidos, e reitores substituídos.

“As universidades e os estudantes deveriam ser livres de se exprimir, de aprender e debater sem o risco de serem despedidos ou detidos”, acrescentou Williamson.

Em 23 de fevereiro de 2018, três universitários foram considerados culpados de “propaganda terrorista” por terem assinado, em 2016, uma petição, assinada por mais de 1.000 universitários, denunciado o “massacre”, na sua perspectiva, de civis pelas forças de segurança turcas durante as operações contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no sudeste de maioria curda do país.

Os procuradores turcos acusam estes universitários de terem lançado a petição a pedido do PKK para relacionar os intelectuais com a causa dos rebeldes curdos.

Uma universitária, Nuriye Gülmen, e um professor, Semih Özakça, tornaram-se neste contexto um símbolo para numerosos turcos que dizem ter sido injustamente visados pelas purgas em larga escala.

Após meses de manifestações diárias no centro de Ancara, promoveram uma greve de forma parcial durante cerca de 11 meses em protesto contra o seu despedimento.

Foram detidos no final de maio de 2017 sob a acusação de pertencerem a um grupo de extrema-esquerda proibido.

Gülmen foi condenado a mais de seis anos de prisão mas colocado em liberdade condicional em dezembro, enquanto foram retiradas as acusações dirigidas a Özakça.

As medidas impostas às universidades criam um clima de medo e implicam uma autocensura nos recintos universitários”, deplorou Williamson.

Segundo a HRW, 5.800 universitários foram despedidos por decretos-lei no âmbito do Estado de emergência instaurado após o fracassado golpe militar, e que prevalece em vigor.