Passos em crise

Passos Coelho, ainda líder apoiado num só pé, veio pela “noite da amargura assente numa mancha negra de umas eleições frias e vazias”, falar à nação que o rejeitou. E que disse ele após o desastre eleitoral que quase abafou o seu grito, e escureceu o seu emblema que teimou trazer pregado na lapela, para mais tarde poder exibir com garbo? Que não se demite hoje nem amanhã. É de homem, mas de olhar sombrio. O ainda líder mergulhado nas areias movediças laranjas, quer no meio ano do calendário que se segue até Março do ano vindouro, preparar o seu futuro. Não quer sair com as mãos a abanar, e daí precisar de tempo suficiente para falar com a comissão de amigos vários, a quem prestou a sua solidariedade enquanto primeiro-ministro e chefe do partido que lidera, e deles tirar agora, o resultado de tal espalhada amizade. A hora é de fazer contas de outra natureza , que das saídas das autárquicas já se sabe no que resultaram - na sua derrocada. O estardalhaço do furacão depositado nas urnas pelo josé e maria, ouvido e sentido por todo o país, fez com que realçasse ainda mais a sua denunciada inabilidade para a governação do partido que dirige, e na dimensão que o país exige. O país estava a dar sinais de que via em Passos Coelho, um homem apenas azedo, contrariado, incapaz de se mostrar colaborante mas apenas incomodado e ambicioso. Por outro lado, um sujeito com traços de invejoso, alarmista, anunciador de desgraças ou nelas esperançado que acontecessem, para poder em tão negativa hora, chegar por dentro do nevoeiro, como a solução para os males então expostos. Propalou sempre a existência de infernos e diabos, que na sua imaginativa visão, esvoaçavam a cada momento, por cada mata, por cada organismo ou por toda a parte onde se buscava apenas equilíbrios e paz, que fizessem um país melhor e mais justo. Passos perdeu a cada tiro que disparava em direcção ao coelho a abater. Sobra-lhe a pele de disfarçado cordeiro, para nos meses que se seguem, tentar arranjar uma toca rentável, aonde ensaiar novos ataques para outras lutas, e regressar menos lobo, quem sabe. Com os amigos que resistirão à sua companhia, o que não hão de ser muitos - o que se virá a saber!

Joaquim A. Moura