Crónicas

Bolsonaro, Maduro & Companhia

Não há ditaduras boas (as de esquerda) e ditaduras más (as de direita). Há ditaduras que devem ser condenadas e combatidas

As esquerdas que proclamam a sua superioridade moral sobre tudo o que as rodeia e que não perdem uma oportunidade para alardear a defesa dos Direitos Humanos, apesar da sua negra história no leste da Europa e noutras zonas do globo, está queda e muda com o que se passa na Venezuela. Todos os dias, os mais básicos Direitos dos cidadãos são violados, mas não se ouve um protesto, um alerta, um pio que seja para denunciar o sofrimento do povo daquele país e para o que está a passar a imensa comunidade madeirense.

Há dias, foi a vergonha de prenderem preventivamente portugueses e luso-descendentes, por alegada violação de leis comerciais, como se isso fosse razão suficiente para pôr uma pessoa atrás das grades, sem culpa formada e sem julgamento. Foi preciso muita pressão do Governo português e da União Europeia para que fossem libertados. Mas onde andam as esquerdas que fizeram, com legitimidade, um frenesim com a prisão de Luaty Beirão em Angola? Onde param os que afirmam, e bem, a sua preocupação pela possível ascensão de Bolsonaro à chefia do Brasil, mas já ignoram a ditadura em Cuba? Onde estão aqueles que se incomodam, com toda a razão, com uma possível democracia musculada no Brasil, mas já ignoram as atrocidades de Maduro? Porque não se revoltam nem protestam com o terror de Daniel Ortega na Nicarágua? Na Venezuela, existem centenas de presos políticos, apenas e só porque ousaram denunciar as más políticas chavistas e da revolução bolivariana, alguns deles provenientes das nossas ilhas. Esta semana um opositor que “suicidou-se” na sede dos serviços secretos!

Não há ditaduras boas (as de esquerda) e ditaduras más (as de direita). Há ditaduras que devem ser condenadas e combatidas. Ponto final.

Os emigrantes madeirenses na Venezuela tiveram um papel decisivo na implantação de Democracia e da Autonomia na Madeira e foi graças às suas divisas e de outras comunidades no estrangeiro que Portugal teve dinheiro para comprar bens essenciais no exterior, entre 1976 e 1984, evitando que a fome se instalasse no país. É por isso que mais do que palavras, temos o dever de gratidão para os que nos ajudaram e que agora sofrem as contingências de más políticas na Venezuela. Até ao momento há boas intenções do Governo da República, há ações concretas do Governo Regional, há solidariedade de associações luso-venezuelanas, mas há, ainda, muitos compatriotas que estão a passar dificuldades, por falta de emprego e de habitação e também devido à burocracia da nossa administração, designadamente quanto à equivalência de cursos e habilitações literárias. Não tenho gostado de ouvir algumas declarações e conversas de residentes sobre o regresso dos emigrantes, tratando-os como refugiados que não são, porque, nalguns casos, essas pessoas revelam falta de memória e mesmo ignorância sobre as razões que fizeram partir milhares de madeirenses para o estrangeiro e sobre o que muitos deles fizeram de bem às famílias que ficaram, bem como o investimento que efetuaram na Região, criando emprego e dinamizando a economia. Repito: foram as suas divisas logo após a revolução, quando pela primeira vez o Fundo Monetário Internacional foi chamado a Portugal, que evitou muita miséria e pobreza. Não podemos esquecer!

Tenho a convicção que este regresso de luso-descendentes, sobretudo jovens e com qualificações, provenientes de um país com enorme capacidade de trabalho e com um mercado muito competitivo, pode ter, nas devidas dimensões e proporcionalidades, efeitos idênticos à chegada dos retornados das antigas colónias, logo a seguir ao 25 de abril. Na altura, a sua integração, também, não foi fácil e houve resistências da nossa sociedade, mas eles trouxeram inovação, criatividade, engenho e saberes que ajudaram a modernizar a nossa economia e a abrir muitas mentalidades. A sua inserção na comunidade nacional e regional foi dos maiores feitos dos portugueses nas últimas décadas e podemos orgulharmo-nos da forma como se fez o acolhimento, embora com as resistências e entraves do costume.

Obviamente, que o regresso dos emigrantes é bem menor que o dos retornados, por enquanto, pois nunca se sabe o que aí vem na Venezuela e as perspetivas na África do Sul não são as melhores, mas estou certo que a maioria dos madeirenses, independentemente das suas ideologias, saberão receber e acolher de braços abertos os emigrantes que regressam e que pretendam aqui residir e trabalhar, por todas as razões invocadas, mas acima de tudo porque, praticamente, não há um único agregado que não tenha emigrantes na família.