Crónicas

As mãos que nos “limpam” os bolsos

É assustador de ver as artimanhas que são usadas para nos taxar e sobretaxar tudo e mais alguma coisa e depois ver que esse esforço não é recompensado nos bens essenciais

Não há outra forma de o dizer. Andam mãos a mexer nos nossos bolsos. Cada vez mais astutas, criativas e gulosas. Basta ver pelo aumento sucessivo de impostos a pagar. O que soa a inexplicável é por um lado termos um aumento do excedente orçamental mas em paralelo vermos mais uma vez crescer a dívida pública. Ou seja andamos a pagar as nossas cada vez mais elevadas contribuições com as dificuldades que sabemos dados os baixos ordenados versus as altas tributações mas o Estado vai protelando os seus pagamentos e acumulando divida nomeadamente a fornecedores o que para além de ser grave e preocupante assume contornos de extrema desigualdade e injustiça.

Existem duas formas de olhar para o sistema fiscal numa sociedade. Ou optamos por uma tributação menos carregada e deixamos à consideração dos contribuintes onde aplicarem o seu dinheiro e se preferem escolher os serviços públicos ou os privados também consoante a carteira de cada um ou então escolhemos um regime fiscal mais pesado mas que garante ao nível da saúde, da educação e de todas as outras áreas sociais um serviço de qualidade que compense as pessoas pelo que descontam. De uma forma prática ou pagamos menos e procuramos as nossas próprias soluções indo ao mercado ou pagamos mais e o Estado fornece-nos os serviços pelos quais pagamos. Eu embora tenha a minha preferência entre as duas, posso admitir que ambos os casos são plausíveis e defensáveis sendo depois uma questão de justificação perante qualquer uma das soluções. O que eu não posso compreender e penso que nenhum dos portugueses compreenderá é que se opte por uma carga fiscal absolutamente desproporcionada, que se espartilhem vidas e se suguem rendimentos para depois apresentar serviços paupérrimos, insuficientes ou muitas vezes até inexistentes.

A triste realidade do nosso País é esta. Duas vozes e duas velocidades. Voraz e implacável a retirar, lento e desleixado a repôr. E é vergonhoso ver uma boa parte da nossa sociedade a ter que por exemplo socorrer-se de escolas privadas mas acima de tudo de seguros de saúde aplicando um esforço adicional do seu rendimento e diminuindo as já de si parcas poupanças quando através do que descontam deveriam ter o direito a serviços de qualidade. É disso exemplo o Serviço Nacional de Saúde. Não é admissível o estado em que o Estado deixou Portugal nesta matéria. Como não é justo que se prolonguem filas de espera para cirurgias e consultas importantes de que dependem as nossas vidas. Isto devia ser a prioridade das prioridades. Da mesma forma não podemos continuar a alertar a sociedade para a baixa taxa de natalidade e para o cada vez maior envelhecimento e depois não aplicarmos verdadeiros incentivos no orçamento de Estado. É urgente tratarmos condignamente os pais que decidem ter filhos e protegermos as nossas crianças dando-lhes mais condições para um crescimento sustentado mas também mais tempo em família sem que para isso os pais saiam prejudicados.

É assustador de ver as artimanhas que são usadas para nos taxar e sobretaxar tudo e mais alguma coisa e depois ver que esse esforço não é recompensado nos bens essenciais. A eletricidade é um bem essencial no que hoje em dia encerra a condição humana. Não é por isso explicável que o seu IVA se mantenha nos 22 ou 23%. Da mesma forma que não podemos continuar a castigar como castigamos as pequenas e médias empresas sufocando-as com taxas e taxinhas. É da mais elementar razoabilidade que se comece a apostar na produção , na criação e no fortalecimento do nosso tecido empresarial para exigir melhores empregos, melhores salários e melhores condições para os empregados. Apostar no investimento ao invés do consumo mas acima de tudo criar condições para que o regime se fortaleça por si e cresça sozinho sem depender de subsídios para aqui e subsídios para ali.Está na altura de decidirem o que querem. Ou nos dão serviços de qualidade para o que estamos a pagar ou deixam-nos ir à nossa vida e tomaremos as decisões a tomar com vista a encontrar as melhores soluções para as nossas famílias. Já chega de mãos dentro dos nossos bolsos quando pouco ou nada conseguimos poupar para comprar as calças...