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O Porto Santo do sossego

Este Porto Santo do sossego não está ao alcance de qualquer jerico madeirense

1. Uma coisa é o Porto Santo no “verão”, coisa outra é o Porto Santo no “Inverno”. No verão temos os madeirenses a colonizar o Porto Santo com desassossego recreativo, sujidade, álcool, vandalismo e ocupando a praia, restaurantes, hotéis e moradias longe da autoridade tributária. Os portosantenses e estrangeiros, legitimamente, física e psicologicamente, “põe-se nas putas”.

2. No “inverno” o Porto Santo é um despovoado de ideias, pessoas e estratégia social, económica e desportiva minimamente inteligente. Está tudo abandonado. Praia, restaurantes, hotéis, comércio, moradias, pessoas, infraestruturas desportivas – tudo. O Porto Santo está hibernado e a sobreviver do desemprego.

3. Vender o Porto Santo como destino de sol e de praia é (tem sido!) um erro fatal. A estratégia económica do Porto Santo – a atenuação da vitalícia e perene sazonalidade - combate-se com a marca da ilha do sossego e do turismo desportivo junto do mercado dos países do norte da europa. Se há dinamarqueses no Porto Santo do inverno das lambecas – italianos é para quecas! - porque não há suecos, noruegueses, finlandeses, islandeses, ingleses e alemães? Hoje, um clique tecnológico do Cristiano Ronaldo nas redes sociais vale mais que essa coisa anacrónica de promover a Madeira em feiras internacionais de vaidades, compras e despacho de amantes à custa dos nossos impostos (vão todos para a casa do Ramalho que sei bem o que escrevo!).

4. O Porto Santo do sossego pressupõe isto: extinção de veículos não elétricos, extinção da internet e proibição do uso de telemóveis em lugares e estabelecimentos abertos ao público, extinção de todos os equipamentos públicos não reutilizável, meios de transporte individuais e colectivos públicos e gratuitos – milhares de bicicletas, em especial, espalhadas por toda a ilha - recantos públicos de leitura e de silêncio obrigatório, praia de 9 km sem zonas concessionadas. Que saiba, porra, uma lambeca não carece de vigia.

5. O Porto Santo como destino de turismo desportivo pressupõem isto: infraestruturas desportivas e sociais decentes – campo de relva natural e sintética do Porto-santense decentes, Pavilhão do Sporting Clube do Porto Santo decente, Campo de Golfe do Porto Santo decente, piscina e ginásio do Porto Santo decentes e o Clube Naval do Porto Santo (abandonado!) decente. Estabelecida esta decência desportiva, os clubes do norte da europa acotovelavam-se para fazer estágios no Porto Santo.

6. Este Porto Santo do sossego - ecológico e totalmente alheio ao extermínio digital das relações humanas e da humanidade – não está ao alcance de qualquer jerico madeirense. Jerico que lambe o Porto Santo no verão não o sabe lamber no inverno. Nem numa duna.