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O Desejado...

Assustaram-se as populares gentes que por ali estavam a apreciar o madrugar do nosso astro rei, e correram para o alto a avisar a restante populaça do perigo que julgavam estar a aparecer

Foi pela calada da noite(não sei bem porquê, mas estas coisas ficam bem assim, pela calada da noite, tantas vezes acordada no seu silêncio, coitada, por ímpios sem respeito pelos merecidos descansos),

numa noite quase manhã de início de Verão, num daqueles dias em que o vento leste escurece com uma neblina ocre, densa e pesada, os tímidos raios solares que tentam romper aquele manto misto de humidade e areia vinda dos desertos do Norte de África, carregando consigo sonhos e esperanças de retorno de glórias e feitos passados que o povo espera sempre, devotamente, estavam alguns populares ali para os lados da praia que é formosa no seu estender de calhau beijando, sendo beijado por pequenas ondas matinais, numa simbiose de enlevo que só se consegue numa madrugada de neblina como a que se vivia naquele dia de início de Verão.

Naquele enlevo idílico, viram, vindo da bruma do Sul, uma figura indistinta, qual monstro marinho de crina esguia e elevada, carregando no seu dorsal uma figura majestosa, com uma coroa da qual saía uma fumarola mais densa e escura, deixando entrever um aspecto de real figura.

Assustaram-se as populares gentes que por ali estavam a apreciar o madrugar do nosso astro rei, e correram para o alto a avisar a restante populaça do perigo que julgavam estar a aparecer.

- É um monstro, é um monstro – gritavam uns.

- É D. Sebastião que volta – gritavam outros, convencidos da vinda do Desejado, mesmo que em forma de fantasma

(afinal, os ventos sopravam dos lados de África...).

Alguns, estando mais acima, não ouvindo bem tudo o que se gritava abaixo, correram para as suas casas em busca de tudo o que pudessem ter à mão para enfrentar o monstro que se aproximava.

Podoas, machados, facas de cozinha, uma ou outra espingarda de caça, tudo valia para defender a segurança das populações assustadas com o fenómeno.

E, assim armados, dirigiram-se de volta para a costa, a fim de se poderem defender, caso fosse monstro, ou de rejubilar caso fosse o Desejado...

Em lá chegando, aperceberam-se que com a aflição tinham ouvido mal!

Não precisariam do arsenal com que se tinham armado para se proteger.

Era ele! Era de facto ele! Era o desejado!

E o povo rejubilou de alegria, cantou e dançou até ser dia, com promessas de real acolhimento.

E o Povo percebeu que o que tinha ouvido não fora um grito de alerta:

- às armas! às armas!!

O grito, em forma de agudo rejúbilo, fora:

- É o Armas! É o Armas...

E a populaça alvoroçada correu, com o entusiasmo próprio das grandes causas, em direcção à Pontinha para ver, não um D. Sebastião, que sabiam não poder ser, mas sim um majestoso navio, de proa erguida e navegar garboso, a entrar no molhe.

Lentamente guinou por estibordo 180º até a popa estar em posição de poder dar à ré sem problemas, aproximando-se, guiado por mão experiente do piloto, do terminal

(só há um) que lhe estava destinado.

O povo em êxtase dava alvíssaras aos seus governantes que tudo tinham feito para que este feito fosse finalmente cumprido.

Retornava o desejado, e não era lenda. Ele estava ali, para todos verem.

E rapidamente se formaram filas de carros e seus ocupantes, oriundos do povo feliz, finalmente feliz por poder zarpar a todo o vapor em direcção a outras paragens, a paragens da Mãe-Pátria, tal como tinha sido solicitado:

- Ele está aqui, agora, viajem!!

Mesmo sabendo ser Sol de poucas semanas, o povo rejubilou e cantou sem parar:

“É o Armas, é o Armas!

Sobre o mar a navegar,

É o Armas, é o Armas!

Para a Pátria zarpar!”

E assim o Povo rejubilou, alegre e contente, por finalmente poder alternar a forma de se ausentar.

Nota: qualquer semelhança com quaisquer actos, factos e similares, passados, presentes ou futuros é produto da imaginação do autor e deverá ser considerada pura coincidência!

P.S. 1 – Sou, obviamente, em favor de uma ligação marítima estável e confortável, com um período alargado (anual, talvez) entre a Madeira e o Continente Adjacente, para que possamos, quando necessário, ultrapassar as restrições do nosso aeroporto.

Venha daí o ferry desejado, independentemente do nome que tenha(m) o(s) armador(es).

P. S. 2 – Força Selecção rumo à final,

Às Armas, Às Armas,

Pela Pátria lutar,

Contra os canhões marchar, marchar!