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Economia Europeia em Risco

A Zona Euro tem apresentado um crescimento moderado, mas com uma evolução muito pouco homogénia, que se poderá agudizar pelas incertezas geradas pelo Brexit

Enquanto a expansão da economia global perde força e o equilíbrio dos principais riscos macroeconómicos mantém essa tendência, o quadro institucional da Eurozona contínua deficiente e muito limitado a nível da margem de manobra da sua política económica. Estas vulnerabilidades pagarão um preço bem pesado no caso de se materializarem os riscos que começam agora a se tornar cada vez mais evidentes.

A expansão económica mundial, no seu conjunto, continua uma realidade, mas com resultados muito menos satisfatórios em relação ao ano passado. Aliás, isto já era de esperar, pois as expectativas de crescimento têm sido consecutivamente revistas em baixa desde o início de 2018. Esta inércia deve-se a vários fatores. Por um lado temos a China que vai andando ao ritmo imposto pelas medidas de estímulo, mas que não consegue escapar a uma tendência de retração económica que se torna cada vez mais inequívoca. Esta retração está a ser motivada principalmente por problemas demográficos (pelos efeitos da política do “filho único”) e pela ineficiência de alguns investimentos. A luta comercial e tecnológica entre a China e os Estados Unidos, também não está a ajudar, pois ambos os países tentam utilizar o seu poder económico para fazer prevalecer os seus objetivos geoestratégicos. Esta disputa pela supremacia económica está a levar a um bilateralismo que gera incerteza e afeta o comércio, a produção e o investimento. Para ajudar a este clima de incerteza mundial, temos do lado da Europa, a incerteza do Brexit, pela possibilidade de uma saída sem acordo, e a exaustão europeia de uma política monetária com efeitos pouco eficientes na procura e na inflação. Os países emergentes também não estão a ajudar pois temos visto como estes se têm afastado do seu trilho do crescimento económico como nos vinham a habituar durante os últimos anos.

A Zona Euro tem apresentado um crescimento moderado, mas com uma evolução muito pouco homogenia, que se poderá agudizar pelas incertezas geradas pelo Brexit, pelas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China (que poderá chegar ao sector automóvel) e pela possibilidade de eleições antecipadas em vários países. Ainda não entramos num cenário recessivo, como têm demonstrado os dados do emprego e das condições financeiras, mas a revitalização torna-se cada vez mais improvável. Para tentar solucionar tudo isto e evitar males maiores, o Banco Central Europeu ainda poderá baixar a taxa de juro de depósito (atualmente em -0,5%), voltar com maior magnitude ao seu programa de compra de dívida pública, rever as condições de financiamento a longo prazo e retocar a sua política de comunicação, mas fará tudo isto com grandes restrições técnicas e fortíssimas consequências políticas, condicionando a sua margem de manobra que já é muito limitada à partida.

A situação atual da Zona Euro não é de todo comparável a 2008, porque os desequilíbrios internos são menores, mas infelizmente tem o seu ponto de partida numa dinâmica de crescimento mais precária, com altos níveis de endividamento público e assente num panorama institucional pouco eficiente e sem as imprescindíveis união bancária e fiscal. Todas estas vulnerabilidades e as indicadas anteriormente fazem, com que uma nova recessão seja novamente muito prolongada, mas relativamente menos aguda que a anterior, pela forma como foram resolvidos os desequilíbrios existentes da década passada. Por isso, o atual debate político deveria passar ao largo de questões secundárias que não nos ajudam nem nos preparam para o futuro, devendo estar mais focado nas reformas estruturais para favorecer o crescimento a médio prazo, na coordenação internacional e nas políticas fiscais que favoreçam tanto a procura como o investimento.