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Da cimeira climática à crise do estado democrático

O problema reside no facto de a inovação não ser necessariamente verde

Vivemos hoje, no estado democrático, com os perigos que a degradação do ambiente e o aquecimento climático passaram a ser admitidos por todos. O debate deixou de se centrar na necessidade ou não de pugnar pela preservação do nosso meio ambiente, mas antes sobre as modalidades de uma intervenção pública neste domínio. Foi este o sentido das grandes manifestações que ocorreram na Alemanha e em Bruxelas que antecederam a Cimeira Climática que se iniciou no princípio desta semana na Polónia.

A questão fundamental prende-se com os custos e os benefícios de uma política de luta contra o aquecimento climático, com este receio subjacente: as políticas ambientais não correm o risco de serem implementadas em detrimento do emprego e do crescimento?

O debate esbarra frequentemente no facto de ser colocado em termos demasiado simplistas. Regra geral, a discussão anda em torno da avaliação entre os custos imediatos de uma intervenção e dos seus benefícios a longo prazo. Preferimos suportar agora um custo e os benefícios mais tarde, visto valorizarmos mais o futuro do que o presente - caso em que há que intervir desde já para preservar o nosso meio ambiente - , ou, pelo contrário, atribuir maior importância ao nosso bem-estar futuro(e dos nossos filhos), caso em que adiaremos continuamente a luta contra o aquecimento climático? Tal explica que o relatório Stern, que manifesta uma fraca preferência preconize uma intervenção imediata, ao passo que tanto o economista William Nordhaus, como outros na sua linha de pensamento expressem uma preferência mais firme pelo presente, o que os leva a aconselhar a tomada de medidas mais graduais.

O debate acerca do aquecimento climático e, em termos gerais, sobre o meio ambiente e a ecologia reveste-se geralmente de um carácter malthuriano: muitas vezes, os economistas ambientais raciocinam em termos de uma economia com recursos limitados, em que uma redução da produção poderia evitar uma catástrofe a longo prazo. Há, contudo, uma forma de escapar aos problemas dos recursos e de reconciliar o investimento com a preservação do nosso meio ambiente: a inovação.

O problema reside no facto de a inovação não ser necessariamente verde: trata-se de inovações que, pelo contrário, favorecem o desenvolvimento de actividades poluentes. Estudos recentes demonstram que as empresas que, no passado, inovaram em tecnologias ou produtos poluentes têm tendência a fazer o mesmo no futuro: procuramos sempre aperfeiçoar o que já sabemos

fazer bem, e não o que inicialmente nos sentimos incapazes de fazer.

Tal, sugere que o Estado pode e deve intervir para encorajar a inovação verde.

Existem simulações económicas que estabelecem que, graças à inovação verde, podemos lutar eficazmente contra o aquecimento climático dentro da margem de custos razoáveis, e isto sem prejudicar o crescimento a longo prazo. No entanto, tal implica não só uma vasta gama de tecnologias, mas também energias renováveis, economias energéticas e tecnologias limpas a cem por cento.

Para que as tecnologias verdes realmente despontem é preciso que o Estado dê o impulso inicial. Estimular a inovação verde e a difusão das tecnologias verdes nos países em vias de desenvolvimento é, pois, uma alavanca essencial na luta contra as alterações climáticas.

Incluir a inovação no debate sobre o aquecimento climático lança uma nova luz sobre a questão do momento adequado das políticas ambientais. Incentiva a agir rapidamente e dá razão a Nicholas Stern, mesmo quando perfilharmos os fundamentos de Nordhaus sobre a taxa de desconto futura ou a preferência pelo presente. Com efeito, não intervir não leva apenas a urna deterioração do ambiente; a falta de uma intervenção do Estado faz com que as empresas continuem a inovar em tecnologias poluentes. E, quanto mais as tecnologias poluentes se destacam relativamente às tecnologias verdes, mais drásticas deverão ser as políticas ambientais exigidas para obviar a esta situação e empurrar a economia para tecnologias limpas. É um pouco como se esperássemos demasiado tempo antes de ir ao médico: o mal agrava-se, o que torna necessária uma intervenção mais profunda e dolorosa.

No final de contas, lutar contra o aquecimento climático requer um voluntarismo e uma coordenação acrescidos por parte dos países desenvolvidos para dirigir a sua inovação e produção para sectores não poluentes, para subvencionar a expansão das novas tecnologias limpas para os países em vias de desenvolvimento e, por fim, desencorajar a emergência de paraísos poluentes, se necessário, recorrendo à ameaça de “tarifas aduaneiras sobre o carbono”.

Foi isto que esteve em cima da mesa nesta 24ª Cimeira do Clima na Polónia.