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Canárias sempre à frente

Andamos entretidos com as urgências, o peixe em jaulas, o ferry, a tap... E no futuro o que vamos fazer ?

O presidente do Partido Popular em Espanha disse “Canárias puede obtener ventajas en el futuro de su posición geoestratégica, como la de convertirse en centro financeiro internacional de baja fiscalidad en la Europa post-brexit”.

Transcrito sem tradução para ser exacto.

Pablo Casado, líder do maior partido da oposição em Espanha, foi a Las Palmas empossar o novo líder regional do PP (equivalente ao PSD+PP em Portugal) e no seu discurso acrescentou que as Canárias devem posicionar-se melhor no mundo financeiro quando se materialize a saída do Reino Unido da União Europeia.

Um líder de Madrid faz esta proposta para Canárias. Depois do primeiro-ministro de Malta garantir no seu parlamento que não perderá esta oportunidade para ganhar posição sobre a praça de Londres, vem o maior partido espanhol proclamar que Canárias tem de aproveitar com as perdas britânicas.

No seu discurso ainda reclamou que a sede africana da NATO seja transferida de Munique (!!!!!) para Canárias.

Primeira verdade: falámos primeiro da baixa fiscalidade mas eles vão fazer antes de nós.

O extraordinário da declaração de Pablo Casado é que, enquanto por cá dizem que já é tarde para uma proposta desta natureza fiscal ou que a Europa não autoriza semelhante estatuto fiscal, em Espanha não têm dúvidas que é possível e viável. Ou alguém acha que o candidato a primeiro ministro de Espanha anda a dar tiros sem saber do que fala ?

E, é preciso dizer, que o nosso CINM, Centro Internacional de Negócios da Madeira, viu proibida a actividade financeira entre as suas operações, impedimento que se mantém ainda hoje. O que a nós é proibido a Canárias está a ser oferecido.

Vamos ficar cheios de vergonha, perante os nossos filhos e netos, se Canárias, mais uma vez, nos ultrapassar em tema tão crucial.

Só mesmo nós por aqui, pequeninos nesta coisa de pensar o futuro, temos medo, hesitamos, pedimos pareceres milionários, adiamos e ......... deixamos tudo na mesma.

A Madeira ainda está na fase em que a prioridade das prioridades é fazer funcionar um banco de urgências, cuidar da criação de peixe em jaulas marinhas, não conseguir um ferry para todo o ano, ter as passagens aéreas mais caras do Atlântico, entre outras situações que são muito degradantes no presente mas não mudam o futuro.

É a política de se candidatar a resolver o que está mal, como se o que está errado seja da responsabilidade de uns quantos extraterrestres que andaram por cá e partiram sem deixar rasto. E ficámos nós para resolver !

Ninguém parece ter tempo para olhar pelo futuro. Que opções estratégicas ?

Vejo aí uma briga patética sobre o hospital. O novo hospital não é um tema do futuro. É do passado, pois já devia estar construído e a funcionar. Quem pôs a Madeira a dever seis mil milhões de euros devia ter feito o hospital. Até tenho vergonha de enumerar os desperdícios financeiros (chamaram-lhes investimentos para as futuras gerações) em obras que para nada servem e deviam ter dado o lugar ao hospital.

E vamos vendo Canárias a tratar do essencial, do que é decisivo para o futuro, tudo isso com iniciativa e apoio dos políticos de Madrid. Não é só Canárias a fazer pelo futuro, é toda a Espanha a empurrar aquelas ilhas para soluções que os deixarão muito à nossa frente.

A História repete-se. Foi assim com o porto de combustíveis, com o turismo como indústria, com o porto franco e agora com a proposta internacional e europeia de baixa fiscalidade.

Em Portugal, de políticos que se interessem por este tema crucial para a Madeira, depois de Francisco Sá Carneiro que, em 1980, fez a lei criadora da então chamada Zona Franca, resta-nos a deputada mais anti-madeirense e anti-portuguesa, Ana Gomes. Uma predadora do nosso Centro de Negócios. Se essa senhora, sem vergonha nem pudor político, fizer parte da lista do PS ao parlamento europeu desdenho qualquer madeirense que vote nessa lista. Um partido que acolha tal sujeita deve ser repudiado em nome do interesse da Madeira e dos madeirenses. Os socialistas da Madeira terão de ser claros e objectivos na sua recusa em apoiar tal candidatura.

Ainda está para nascer o político português continental que se proponha apresentar uma ideia que defenda e valorize a Madeira. É tudo uma mesquinhez, azedume, falsidade, contrariedade, artimanha, falta de transparência e ...... distância. António Costa vem à Madeira ajudar candidaturas eleitorais, não vem como político de Estado interessado pelos assuntos desta terra portuguesa. O mesmo digo dos demais protagonistas políticos, mesmo do meu partido, quando se dignam cá vir.

Não há sentido de Estado nos nossos eleitos. Tudo é jogada política que se presume fazer ganhar alguns votos. Por isso o essencial nem é pensado e discutido. Ficamos politicamente entretidos com as urgências, o ferry, a tap, os peixes enjaulados, entre outras miudezas. Que persistirão enquanto o essencial não for resolvido.

A política tem de valer a pena !