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Abstenção volta a ganhar folgadamente. Decrete-se emergência nacional já!

É curioso e preocupante, que no dia 26 do passado mês, dia das eleições para o parlamento europeu, após o apuramento da votação, os partidos mais votados tenham festejado as suas “vitórias”. Com toda a franqueza, fiquei incrédulo, pois não encontro qualquer razão para festejos. Qualquer manual de bolso sobre regimes políticos, esclarecerá que não há Democracia que resista a níveis de abstenção, que adicionada aos votos brancos e aos nulos, ultrapasse, como ultrapassou nestas eleições, os 70% dos inscritos. Nas eleições legislativas nacionais ou regionais a percentagem tem-se situado entre os 45 e os 55%. É verdadeiramente catastrófico, mas para os partidos políticos tradicionais e dominantes, a coisa fica-se por uma declaração políticamente correcta ao se referirem ao assunto. É angustiante ouvir aqueles que são os grandes causadores desta realidade, repetirem continuamente que “temos ter uma comunicação mais clara” ou “há que reflectir”, como se o problema se resumisse a uma questão de marketing político ou fossem necessários fins de semana em retiro espiritual para meditar e assim encontrar as medidas a tomar. Não se vêem ações para combater os motivos, que passam pela actualização dos cadernos eleitorais, sensibilização dos jovens para a importãncia de votar, criação de condições/alternativas para que os mais idosos também o possam fazer, e de extrema importãncia, credibilizar a actividade política, acabando de vez, entre muitas outras coisas, com a promiscuidade existente entre os políticos (que por força da sua atividade, agem na esfera pública), e o sector privado, transitando de áreas que tutelaram para empresas privadas desses sectores. Dizem os “opineiros” do costume que todos temos responsabilidades, nomeadamente políticos, comunicação social, etc. Até podemos admitir que sim, mas haverá concerteza alguns que terão maiores responsabildades do que outros e esses são indiscutivelmente os agentes políticos, que podem e devem agir para que o panorama se altere. Isto se estiverem realmente cientes do que é (deve ser) uma Democracia e, paralelamente, estejam na política para a exercer com a nobreza que a mesma exige e onde o rumo deverá ser sempre o trabalhar para o Bem Comum. Mas se se analisar “aqui e acolá” os últimos resultados eleitorais, consegue-se também encontrar, por exemplo, o contrasenso do seguinte resultado: É sabido, e sobejamente notíciado pelos orgãos de comunicação social e repetidamente comentado nas redes socias, que a corrupção é hoje um dos maiores males (senão mesmo o maior) que corrói e está na origem das grandes desigualdades existentes na sociedade e pasme-se, o cabeça de lista de um partido recente e credível e que até é já uma figura pública notabilizada pela sua incisiva e acérrima luta contra à corrupção, com um combate que tem mais de uma dezena de anos e onde o seu sucesso em sede judicial chega já perto das duas dezenas de processos vencidos contra influentes interesses instalados, nestas eleições para o parlamento europeu, obteve a singela percentagem nacional de 1,05 % dos votos, o que representa 34.672 votos, (https://www.europeias2019.mai.gov.pt/). Mas há mais para pasmar. O número 2 da lista desse mesmo partido, que era deputado europeu e agora se recandidatava neste partido por incompatibilização com o que o havia elegido nas eleições europeias anteriores, foi considerado como o eurodeputado português mais influente na área do ambiente pela Vote Watch Europe. Aqui, quer parecer que a responsabilidade será da comunicação social, particularmente os canais de televisão, pois persistem em dar eco aos grandes partidos, os tais que estão aos anos comodamente instalados, deixando pouco espaço aos novos e pequenos partidos, estes ainda sem “vícios”, e que claramente poderiam ajudar na necessária reciclagem do sistema Democrático. De substancial, retira-se dos elevados números da abstenção, estarmos não só perante uma crise de legitimidade de representação, já que os representantes eleitos não representam a esmagadora maioria da população, como também perante o definhar da própria Democracia. É que o reduzido número de eleitores que votam ou têm a perceção errada do que lhes é benéfico, pois não escolhem aqueles que têm provas dadas no combate àquilo que tanto reclamam, ou são apenas aqueles (imensos) que estão ligados às máquinas partidárias e/ou interesses, legítimos ou não.