Mundo

EUA e Rússia mantêm divisões sobre a Venezuela

None

Os Estados Unidos e a Rússia continuam divididos sobre uma possível solução para a atual crise política que afeta a Venezuela, afirmaram hoje representantes das duas potências após conversações em Roma.

Num hotel na capital italiana, o enviado especial dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliott Abrams, e o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Ryabkov, encontraram-se hoje à porta fechada para discutir a situação naquele país latino-americano.

A reunião foi “positiva, séria e substancial”, disse Elliot Abrams, apesar de Washington e de Moscovo continuarem a manter posições significativamente opostas, uma vez que o primeiro reconhece o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela, e o segundo é um aliado chave do Presidente venezuelano contestado, Nicolás Maduro.

“Mas, as conversas foram positivas no sentido em que as duas partes ficaram com uma melhor compreensão das posições de cada uma”, reforçou, em declarações aos jornalistas, Elliot Abrams, um veterano da diplomacia norte-americana, conhecido pelo seu envolvimento em decisões controversas durante a administração de Ronald Reagan sobre El Salvador e Nicarágua.

O representante norte-americano admitiu que é “perfeitamente plausível” que as duas partes voltem a encontrar-se, mas sem adiantar uma possível data.

Elliot Abrams reiterou que para Washington “todas as opções estão sobre a mesa” - numa alusão a uma eventual intervenção militar --, mas também ficou vincado que os Estados Unidos “escolheram o caminho de exercer pressão económica e política sobre o regime (de Nicolás Maduro) para um futuro pacífico da Venezuela”.

Do lado da Rússia, que já acusou Washington de se intrometer nos assuntos internos da Venezuela, Sergei Ryabkov afirmou que a conversa “foi difícil, mas franca”.

“Vamos analisar os sinais que recebemos dos representantes dos Estados Unidos. Partimos do princípio de que Washington levou a sério as nossas prioridades, as nossas abordagens e as nossas advertências”, referiu o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

Em declarações aos ‘media’ russos, o representante de Moscovo enfatizou a necessidade de um diálogo com os Estados Unidos, mas também advertiu Washington contra uma eventual intervenção militar.

“Alertámos os Estados Unidos contra essa abordagem imprudente”, declarou Ryabkov, citado pelas agências de notícias russas estatais Tass e RIA Novosti.

Antes da reunião, Elliot Abrams encontrou-se com elementos do Governo de Itália - um dos quatro países da União Europeia (UE) que não reconheceram Juan Guaidó como presidente interino -- e fez uma visita ao Vaticano.

Citado pela agência norte-americana Associated Press (AP), Elliot Abrams destacou que a Igreja Católica é encarada com respeito e credibilidade na Venezuela, mas admitiu que não está claro qual poderá ser o papel desempenhado pelo Vaticano na crise política daquele país.

No início de fevereiro, Maduro disse que tinha escrito ao papa Francisco a pedir a sua ajuda e mediação na crise que enfrenta a Venezuela.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o opositor e presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Cerca de 50 países, incluindo a maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela encarregado de organizar eleições livres e transparentes naquele país.

Na Venezuela, a confrontação entre as duas fações tem tido repercussões políticas, económicas e humanitárias.

A confrontação também tem dividido as Nações Unidas, onde Nicolás Maduro mantém o apoio da Rússia, China, Cuba, Irão, Coreia do Norte ou da Síria, que têm denunciado uma ingerência ocidental.

Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.

Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar proteção ou melhores condições de vida.