Madeira

Temos de preparar melhor os nossos jovens para o mundo digital

Ex-primeiro ministro e ex-presidente da Comissão Europeia foi o orador principal da primeira parte do II Encontro de Investidores da Diáspora

Foto Rui A. Silva/ASPRESS
Foto Rui A. Silva/ASPRESS

José Manuel Durão Barroso, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, ex-primeiro ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, hoje está mais livre para falar com independência, como admitiu na prelecção que deu no II Encontro Intercalar de Investidores da Diáspora. Por isso, abordou várias temáticas da política e economia mundial dos tempos que privou com vários líderes, mas o que mais marcou a sua lição sobre o que pode a Madeira fazer para ter um futuro de crescimento, foi quando defendeu a continuidade do CINM e pediu para que se aposte na formação para o digital das novas gerações.

Começou por realçar as qualidades madeirenses aqui ou lá fora ao longo da sua vida, lembrou Mandela e o seu papel junto da comunidade madeirense, lembrou Obama que foi criado no Havai e sabia o papel que os madeirenses tiveram naquelas ilhas, relembrou uma visita a um restaurante brasileiro em Londres que, excepto o cozinheiro todos eram madeirenses, atirou ainda os seis anos de vivência na Suíça, as relações familiares no Brasil, na costa oeste dos Estados Unidos, na Venezuela, onde já não vai há anos. Isto para referir que a única solução para um mercado pequeno, é abrir-se ao mundo. E é isso que encontrou em todos os madeirenses que encontrou pelo mundo, independentemente do seu grau de instrução.

Não fala do melhor caminho para a Madeira, tendo ele também sido ministro dos negócios estrangeiros, optou por falar sobre como valorizar a marca Madeira, ele que é um defensor da Autonomia. Lembrou, aliás que como presidente da CE apoiou o conceito das regiões ultraperiféricas.

Sobre o que fazer para valorizar a marca Madeira no mundo, destacou o quanto o mundo evoluiu e, efectivamente, em termos de indicadores sociais, económicos e culturais estamos muito melhor no mundo actual. Gosta de combater aquele glamour cultural do pessimismo que diz que o mundo está pior, mas não está. “Ninguém teve sucesso investindo no pessimismo”, afiançou.

Com uma politica económica e monetária que já está a prever a próxima grande recessão. Quando virá? Para 2020? “Eu acredito que não será, haverá sim para já um abrandamento do crescimento”, disse. “Temos de nos preparar para a situação algo indefinida e de incerteza nomeadamente as tensões geopolíticas e económicas entre Estados Unidos e a China e a ameaça do mesmo com a Europa”, alertou.

O que está em causa nesta ‘guerra’ é quem vai dominar o mundo pela tecnologia, defende Barroso. “Estamos à beira de uma revolução tecnológica e as crianças têm de começar muito cedo a aprender não só o inglês como a nova computação, o chamado ‘coding’. O mercado digital vai marcar o futuro, por isso não se percebe que haja 28 mercados digitais na Europa. A Europa é o nosso mercado doméstico e só depois devemos pensarm no mercado mundial e global. Estamos atrás dos EUA e da China, actualmente o maior investidor em termos de inteligência artificial, mas temos de ser realistas e preparar as novas gerações para este mundo.”

A União Europeia é capaz - apesar de lentamente e com problemas - de chegar ao patamar dos outros dois, acredita o ex-líder europeu. Temos o problema do Reino Unido, admitiu, para o próprio Reino Unido, mas também para a Europa porque com a sua saída, perdemos influência. Não acredita que os portugueses venham a ser afectados com o Brexit, mesmo com a personalidade interessante a criativa do novo primeiro-ministro britânico. Infelizmente é uma possibilidade e estou convencido que poderá acontecer sem acordo, apesar de Boris Johnson ser um dos do lado mais duro do Brexit, acredita que o país deve ficar aberto ao mundo tal como fez quando foi presidente da câmara de Londres. “Se o Reino Unido crescer e quiser continuar a crescer, vai precisar de mais emigração, por isso acredito que no futuro haverá uma situação muito confortável para os nossos emigrantes”, deu a nota positiva.

Novamente olhando à Madeira, Durão Barroso disse que vê a Madeira como grande caso de sucesso. Se olharmos para ela antes da Autonomia, quando era uma das regiões mais atrasadas do mundo, hoje conseguiu com grande dinamismo e trabalho das suas gentes. Lembrou que não há segredo nenhum, até porque a Madeira tem um madeirense como responsável pelos arquivos secretos do Vaticano, o que aconteceu foi a abertura ao mundo. Há condições para darmos um passo em frente, aproveitando para trabalhar a marca e no branding Madeira, defendeu a imagem da marca Cristiano Ronaldo o português mais conhecido, defendeu e com muitos aplausos o CINM, porque não percebe porque há essa diferenciação no tratamento com outras praças europeias, inclusive defende que as grandes empresas portuguesas que estão na Holanda ou Luxemburgo, deviam estar sedeadas na Madeira.

Por fim, disse estar preocupado com os fundos comunitários. “Não estou satisfeito com a actual proposta da CE, nomeadamente no tratamento dado a Portugal, esperando que seja corrigida em relação ao nosso país para que a ajuda comunitária seja a que Portugal tem direito”, frisou, destacando que a redução da dívida madeirense, a melhoria das conexões, sejam nos transportes sejam de banda larga, há condições para a Madeira receber investimento da diáspora. Espero voltar cá para constatar este desenvolvimento”, concluiu.