“Soberba”

As entrevistas do Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque (M.A.) remetem-me sempre para o mesmo adjectivo, a “soberba”, já que existe sempre no discurso uma altivez e sobranceria política sobre os outros que é quase imagem de marca. Todos os sucessos recentes na Madeira são da sua responsabilidade e do seu Governo, enquanto os insucessos são quase sempre culpa do Governo nacional e/ou dos continentais, os quais, por qualquer razão nunca bem explicada, parecem funcionar sempre como uma força de bloqueio ao desenvolvimento madeirense. Curiosamente, este é o mesmo tipo de discurso que vemos na Venezuela ou em Cuba, exemplos sempre tão criticados por M.A., mas relativamente aos EUA. Não me parece que os madeirenses sejam idiotas ou, como agora se diz, comam gelados com a testa, para aceitarem sempre o mesmo tipo de argumento do bicho papão continental (ao fim de 4 décadas de democracia e de autonomia seria um péssimo sinal).

M.A., mesmo que o refute com efabulações bonitas dignas de um concurso de poesia, ficará sempre ligado a 2 dos piores resultados em eleições na Madeira por parte do PSD, a perda da maioria parlamentar na Assembleia Regional em 2019 e a perda substancial de mandatos autárquicos em 2017.

Agora M.A. terá de descer à Terra e, para poder governar de uma forma tranquila, ceder o lugar da 2ª figura da Região a um partido que teve 5.8% dos votos e que perdeu quase 10.000 votantes relativamente a 2015 (uma quebra de quase 53% no seu eleitorado). E terá de inventar duas novas pastas/secretarias, com todos os custos que as mesmas acarretam em termos de assessores, técnicos, etc., para poder acomodar o CDS no Governo, sem que nenhuma das pastas já prometidas antes das eleições ao seu apparatchik interno pudessem ficar comprometidas (embora o jogo de cadeiras já se esteja a fazer sentir em muitos dos lugares de nomeação política).

M.A. acusa a concorrência de ser uma espécie de “barriga de aluguer”, ao mesmo tempo que se candidata às legislativas nacionais como cabeça de lista do PSD na Madeira, mesmo sabendo que nunca iria ocupar/cumprir o cargo de deputado em São Bento. Aliás afirma até que “nem pensar, cumpro o mandato todo à frente do governo, não saio a meio como os outros”. Os tais “outros” não sabemos se se estaria já a referir a Teófilo Cunha, o qual abandona a autarquia de Santana a meio do mandato para ir ocupar um dos pelouros de fantasia criados para o efeito (não têm grande relevância mas servem para irem entretendo o CDS fazendo-os acreditar que efectivamente fazem parte da solução governativa).

Miguel F. Carvalho