Os sem-abrigo e o presidente

Os sem-abrigo dão um jeito do caraças. Eles espreitam tudo o que é lixeira em busca de qualquer coisa útil, que dê para enganar o dia-a-dia, e matar a fome ou algum vício. Umas botas meio velhas, um casaquinho assim assim em tamanho e em aceitável estado, uma manta mesmo que rota, e uma garrafinha de cachaça é que dava jeito. Mas azar dos azares, fazem achados do diabo. De tanto espreitarem para os contentores de lixo, deparam-se por vezes com objectos e embrulhos do arco-da-velha - recém nascidos. Bébés que se assemelham a eles. Nús, mal vestidos, outros já a dormir para lá do além. Mas é graças a acontecimentos destes, que conseguem a visita do Presidente da Nação, que é berço deles,e de imediato os transforma em heróis. Valha-nos Deus que a justiça tarda mas não falta a reconhecê-los, úteis. São é preciso mais a vasculhar nos bolsos, e nas lixeiras, o sustento que os mantenha alerta e com boa visão, mesmo nas noites frias e de solidão. Um bme-haja para eles e para quem os coloca no patamar da heroicidade, por dá cá aquela palha. A miséria de quem governa e de quem está sujeito à sujeira da vida para onde são atirados, deve merecer relevo e até um bom repasto num qualquer palácio presidencial, acompanhado de louvor pela nota artística obtida naquele número de circo arrojado de andar noite após noite a procurar alimento para matar a fome. Assiiiiiim rapaziada. P´rá frente é que é o caminho. O presidente já lá está pronto para a selfi do dia e a reportagem da semana!