Portugal e o novo estado da Palestina

Evidentemente que, haveria da nossa parte coisas muito mais importantes e graves a escrever sobre este infeliz, espoliado e sugado País, do que nos debruçarmos sobre a criação de um Estado da Palestina, apesar da consciência que temos da sua necessidade.

Porém, entendemos que, o momento não é oportuno e vimos nesta repentina solidariedade com o povo palestino, mais um acto de hipocrisia, um tentar querer desviar as atenções da situação caótica em que vivem alguns países europeus (e não só) como a França, o Reino Unido, o nosso Portugal e outros mais.

Sustentamos a ideia no seguinte:

Há 35 anos o líder palestiniano Yasser Arafat leu em Argel a declaração da independência da palestina, nos termos que se segue:

“O Conselho Nacional da Palestina, em nome de Deus e do povo Árabe Palestino, proclama a criação do Estado da Palestina, tendo como capital a cidade de Jerusalém.

O Estado dos palestinos é para eles, para que nele prossigam uma igualdade de direitos onde sejam salvaguardadas as suas convicções políticas e religiosas, através de uma governação democrática, baseada na liberdade de expressão e na liberdade da constituição de partidos.

A governação basear-se-á nos princípios da justiça social e da igualdade entre homens e mulheres e não na cor, na religião ou do sexo e sob a égide de uma Constituição que assegure o Estado de Direito e um Poder Judicial independente.”

Esta declaração foi feita por Arafat que sempre foi contrário à Constituição do Estado de Israel, embora, mais tarde, em 1988 acabasse por reconhecer o direito da existência de Israel e buscasse uma solução assente exatamente na criação de dois Estados que terminasse com o conflito israelense-palestino.

Morreu em 2004. Por uns, considerado terrorista, por outros, mártir, porque simbolizava as aspirações do seu povo e ainda por outros de traidor e corrupto por considerarem que fora submisso ao governo de Israel.

Contudo, - ao que consta –o que prevalece até hoje é que é visto como um líder que personificou o sonho de um povo.

Bom, mas ele não concretizou os seus objetivos, o que se lamenta, mas aqui para o caso não é relevante, o importante é sabermos se nos dias de hoje o povo palestino tem líderes capazes de criar um Estado na base daquele que Arafat preconizava.

Todo o mundo sabe que não tem, de modo que, este apressado reconhecimento de um Estado Palestino sem ser criado primeiro as condições indispensáveis para isso, talvez não seja uma hipocrisia, mas um sacudir a ”água do capote” e depois o povo que se amole. Aliás, a modos de como Portugal fez há 50 anos com a miserável descolonização que na pressa de acabar a guerra e criar Estados independentes, lançou o povo nas mãos de tiranos com os resultados que sabemos e que ainda hoje tristemente testemunhamos apesar de já ter passado quase meio século.

Para não falarmos dos milhares de continentais, madeirenses e açorianos que lá trabalhavam e amavam aquelas terras e que foram obrigados a sair com as suas vidas despedaçadas.

- As guerras, a fome, a extrema miséria, a escravidão que se verifica não só em Gaza e na Ucrânia, mas um pouco por todo o mundo, talvez tivesse o seu fim se os países que têm FORÇA E PODER de pôr cobro a tudo isso não estivessem – ao que se presume – entregues a cretinos que exploram e vivem exatamente dessa desgraça alheia.

Aqui é que está o busílis da questão que, por medo, por cobardia ou por interesses ninguém põe a “boca no trombone”.

Juvenal Pereira