ONU pede fim de ataques à flotilha e exige investigação
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) apelou hoje para o fim dos "ataques à flotilha" que se dirige à Faixa de Gaza com ajuda humanitária, exigindo uma "investigação independente".
"Deve ser realizada uma investigação independente, imparcial e aprofundada sobre os ataques e a intimidação que foram relatados", afirmou um porta-voz do ACNUDH, Thameen al-Kheetan, depois de ativistas pró-palestinianos da flotilha a caminho de Gaza afirmaram ter sido alvo de "explosões e múltiplos drones" ao largo da Grécia.
"Esses ataques devem cessar e os responsáveis por essas violações [do Direito Internacional] devem ser responsabilizados", acrescentou.
Partida no início de setembro de Barcelona, na costa nordeste de Espanha, a Flotilha Global Sumud tinha já denunciado ter sido alvo de dois ataques com aeronaves não-tripuladas ao largo de Tunes.
"Os ataques e ameaças contra aqueles que estão a tentar levar ajuda e apoiar as centenas de milhares de pessoas em Gaza que sofrem de fome e inanição desafiam a compreensão", afirmou Al-Kheetan.
A Flotilha Global Sumud, composta por cerca de 50 navios com ativistas, políticos, jornalistas e médicos de mais de 40 nacionalidades, incluindo a ecologista sueca Greta Thunberg e três portugueses (a deputada Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício), é considerada a maior flotilha organizada até ao momento.
Os navios da flotilha pretendem chegar a Gaza para levar ajuda humanitária e "quebrar o cerco israelita", após duas tentativas barradas por Israel em junho e julho.
Em junho, Israel deteve no mar os navios da Flotilha da Liberdade que tentavam chegar a Gaza - segundo a organização, em águas internacionais - e deportou os seus membros, alguns dos quais após passarem por prisões israelitas.
O Governo israelita afirmou na segunda-feira que não permitiria que a flotilha chegasse a Gaza, onde está quase há dois anos em curso uma guerra, propondo-lhe atracar no porto da cidade israelita de Ascalon, a norte do enclave palestiniano, e transferir a ajuda, que afirmou se encarregaria de fazer chegar ao destino.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando 251.
A guerra no enclave palestiniano fez, até agora, pelo menos 65.419 mortos, na maioria civis, e 167.160 feridos, além de milhares de desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros e também espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de alguns mantimentos, distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos famintos, tendo até agora matado 2.531 e ferido pelo menos 18.531.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais e israelitas de defesa dos direitos humanos.