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Crónicas

A força de uma separação (e o começar de novo)

Nunca fui casado nem tive filhos. As minhas relações mais próximas são por isso dinâmicas familiares e de amizades profundas que se assumem dia após dia como o círculo mais próximo. Sou ainda assim, ou gosto de me ver como tal, uma pessoa observadora, tenho um fascínio por relações humanas e de tentar entender como elas se constroem e que caminhos percorrem. Os olhares, os pequenos gestos e comportamentos, o respeito e a cumplicidade ou o vazio do que se consegue medir a léguas já não ter sumo ou conteúdo e permanece ali, muitos vezes por falta de coragem, outras por escassearem opções melhores. Nos dias que correm é um verdadeiro desafio cumprir com tudo aquilo que uma relação nos pede mas também por vezes um indecifrável enigma estar à altura das expectativas dos que nos acompanham. Talvez por isso muitos acabem por viver fachadas construídas à base do que é importante mostrar ou de que a sociedade quer ver, escondendo assim vidas frustradas e conflitos diários. Há quem para manter esse status viva vidas infelizes, quem desespere por alguma luz que o faça tomar uma decisão, quem permanece onde não quer estar ou quem aceite viver a vida pela metade para não romper equilíbrios nem arranjar confusões.

Dentro desta panóplia de formas de estar, existe para muitos um momento em que não dá mais. Em que o sufoco da divisão e do afastamento obriga a tomadas de decisão mais drásticas e profundas. Quem sinta a vida a fugir-lhe pelos dedos, quem sinta angústia por voltar a casa ou quem por uma ou outra situação complicada, perca a confiança e por consequência o sonho do que começou por ser mas já não é mais. É por isso tão brutal e dilacerante a decisão de uma separação. Seja de um amigo que nos desiludiu, de um marido ou mulher que já não significam nada um para o outro, de colegas de trabalho que seguem ambições díspares. Infelizmente quando tomamos a decisão de nos separar de alguém, não podemos simplesmente desaparecer, há todo um outro lado, pessoa ou pessoas que são direta ou indiretamente afetadas pela tomada de posição e que são impactadas nas suas vidas pela quebra. É por isso tão difícil por vezes assumir esse corte, chegar à conclusão que o que havia provavelmente acabou, começar do zero e virar a página. Há quem demore anos para o fazer, há quem não espere muito quando vê para onde caminha determinada história. Há os que se precipitam e se arrependem, os que refletem e maturam, os que se deprimem e se enchem de dúvidas. Quem leve até ao limite do suportável ou quem desista à primeira adversidade.

O que é facto é que a força das separações carregam em nós um peso muitas vezes difícil de suportar e de digerir. No estudo que faço e na observação que me acompanha dos que me rodeiam, amigos, conhecidos e familiares sinto que esta é das passagens mais complicadas e angustiantes da nossa vida. O assumirmos para nós que chegou o momento de parar, de partir, de separar. Algumas vezes bem para lá do razoável, outras mais difíceis de explicar e entender. Tenho acompanhado de perto um amigo que foi confrontado com esta decisão por parte da pessoa com quem dividia planos e projetos para o futuro. De uma forma um tanto ao quanto surpreendente e de um jeito bruto e assertivo. E de repente tudo mudou. Aquilo que era já não é, as rotinas deixaram de contar um com o outro, a construção de algo a dois que parecia estável e tranquilo deixou de existir.

Volta-se ao início, faz-se marcha atrás, começa-se do zero. De uma forma frustrante e arrasadora. Tentam-se arranjar explicações, vive-se uma réstia de esperança de que tudo volte a ser o que era ao mesmo tempo que o sentimento de desorientação lhe quebra o que era um dado adquirido, o que parecia ser para sempre. As separações têm destas coisas, alteram tudo o que ficou para trás e dão um novo significado ao que está para vir. Não é fácil, não se desenha de um dia para o outro mas permite-nos ir atrás de novos desafios que nem sempre são piores e que na verdade nos obrigam a voltar a correr e a procurar novas soluções para as necessidades que todos temos. É por isso que deve ser encarada, não como o fim de qualquer coisa mas como o princípio do que temos ainda por conquistar.

Frases soltas:

Donald Trump vive obcecado pelo Prémio Nobel da Paz. Para isso vai construindo uma agenda em que não faltam cortinas de fumo, encenações e o aproveitamento do facto de ser o presidente da maior potência mundial (EUA). Doa a quem doer. É o primado do “eu”, egocêntrico e vaidoso. Nada mais parece importar. Com isto perde-se o que verdadeiramente interessa.

Mais um ano em que uma equipa portuguesa, fica pelo caminho nas pré-eliminatórias de uma competição europeia de futebol. Desta vez o Santa Clara. Continuamos a não conseguir aumentar a competitividade da nossa liga em que existem os três grandes e depois todos os outros.