Morreu mais um Grande Amigo
Morreu mais um grande amigo, desta vez um grande amigo de infância de muitas lutas pela implantação da democracia na Madeira, sem dúvida o líder da oposição que mais lutou contra a ditadura que foi implementada na Madeira pelo PPD. O Dr. Emanuel Jardim Fernandes nasceu na mais linda terra do Norte, o Seixal, tal e qual como eu e ele era mais novo cerca de um ano e meio. Brincámos juntos, íamos para a praia juntos, fazíamos patuscadas juntos, muitas vezes depois de uma pescaria, ouvíamos, na minha casa, já mais velhos, baladas de protesto com o Zeca Afonso, o Luís Cília, o José Mário Branco, e outros, na minha casa, discos que os meus irmãos iam comprando em Lisboa e trazendo para a Madeira. Nesses tempos tínhamos que arranjar os nossos próprios divertimentos, tínhamos que os fabricar, organizar bailaricos com um acordeonista ou com um gramofone que era preciso dar à corda e também já com um gira-discos, quando já havia electricidade. Utilizávamos um Petromax que funcionava a petróleo e iluminava o recinto. Jogávamos futebol na equipa do Seixal, principalmente no campo que existia na Santa do Porto Moniz, mas antes jogávamos na estrada, ficando um de nós a vigiar o regedor que prendia e destruía as bolas.
Fui eu que o levei para o PS, pois eram conhecidas as suas lutas contra o fascismo enquanto estudante em Lisboa, preso pela PIDE e com um curriculum desses só poderia ser socialista. Foi deputado e Vice Presidente do grupo parlamentar, que era liderado pelo Arquitecto João Conceição. Sem dúvida nenhuma que foi o deputado que mais enfrentou os tiques ditatoriais de Alberto João Jardim, que era líder do grupo parlamentar do PPD. Foi um grande lutador e como dizia Mário Soares nunca foi derrotado, porque “só é derrotado quem desiste de lutar” e ele nunca virou as costas nem atirou a toalha ao chão, ou seja, nunca deixou de lutar. Foi líder do PS/M durante quinze anos, dos quais treze consecutivos, foi deputado na Assembleia Regional, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu. Foi candidato à Câmara Municipal do Funchal e não ganhou por pouco, até que pela primeira vez foram detectadas aldrabices nalgumas mesas de voto e houve necessidade de repetir o acto eleitoral. O adversário era o João Dantas. Foi, também, vice-presidente da Assembleia Regional e Presidente da Assembleia Municipal do Porto Moniz, já no primeiro mandato do Emanuel Câmara.
Alberto João Jardim que não respeitava ninguém, nem o líder da oposição, pois de democrata nada tinha, um dia disse na Assembleia Regional que o “Emanuel era o chefe de uma casa de meninas”, referindo-se ao Partido Socialista Madeira. Por aqui podemos ver o que o Emanuel teve de enfrentar como líder do PS/M. Uma vez, houve um debate na RTP/M entre ele e o Alberto João. O Emanuel, preparou-se muito bem e deu um “baile” no líder do PPD. A partir daí acabaram-se os debates públicos entre qualquer membro da oposição e qualquer membro do Governo. Além disso o Presidente do Governo deixou de ir à Assembleia Regional que deveria ser o órgão que controlava o Governo, mas que era comandada à distância pelo próprio Governo, salvo as duas primeiras legislaturas que foram bem dirigidas pelo seu Presidente. Recusava-se a responder às perguntas dos deputados que eram feitas por escrito. Só lá ia para discutir os programas do governo e os Orçamentos da Região, mas só intervinha na declaração final em que já ninguém lhe poderia responder.
Emanuel aturou tudo isto, lutou contra tudo isto e muito mais e nunca desistiu.
Emanuel descansa em Paz. A tua memória ficará para todo o sempre.