NÃO... é NÃO !
E é com este processo histórico, familiar e pessoal, que me convoco (como dizem os Napa) para lamentar que o” não é não” tivesse sido enterrado e, desde logo, neste âmbito
A célebre frase de Luís Montenegro, sobre a relação do PSD com o Chega, desvaneceu-se. E numa área em que jamais devia ter ocorrido.
A da nacionalidade e dos estrangeiros.
Porque Portugal é, sempre foi, um espaço de migrações. De imigrantes e de emigrantes, e jamais e só, um espaço exclusivo de Lusitanos puros.
Da minha parte sou, do lado materno, descendente de imigrantes. De origem britânica e germânico-escandinava. Mas também de raiz judaica da raia. Essa dimensão assaz maldita aos olhos nacionais, que induziu a expulsão ou a conversão forçada dos que cá quisessem ficar, que não se livravam, apesar disso, de perseguições. A maior parte das vezes decorrente de inveja ou vingança de terceiros, e que uma Inquisição tortuosa, como hoje parece querer estabelecer-se, não se eximia de os acusar por todos os males sociais.
Do lado paterno, ligados à Madeira há séculos, as raízes são também múltiplas. Não exclusivamente do retângulo português, pois outras existem da restante Ibéria. Mas também e apesar de ainda não comprovada integralmente (por via da composição genética) do Norte de África e das Canárias, a que a migração, de muitos dos seus descendentes a partir do Carrilhão do Atlântico (como Silbert tão bem apelidou esta região), rumo às Américas do Norte e Latina (do centro e do sul, até à Argentina), terá acrescentado novas e diferentes composições genéticas aos originais.
Noutro plano, nasci em África. Ou seja, sou um retornado. Conceito que trazia acoplado o célebre “vai p’á tua terra”, que ouvi, relembre-se, bastas vezes, e que vejo agora replicado, 50 anos depois, a outros de outras paragens.
Serei, portanto, enquanto português e de acordo com os marketeers de serviço, do género “PURO MENOS PURO NÃO HÁ”.
Neste contexto, aliás, tenho de me cuidar, pois posso ser um alvo perfeito para os apologistas da Remigração, essa ideia brilhante que paira nalgumas cabeças iluminadas.
Até porque, e qual cereja no topo do bolo, como não sofro com a seleção nem com clubes em provas internacionais, não tenho, para me salvar, a possibilidade de apresentar essas medalhas, símbolo maior do patriotismo balofo que prolifera.
Só espero é que não o façam com as mesmas premissas que eram aplicadas aos judeus. Que, mau grado expulsos, ainda tinham de pagar o “resgate” à Coroa, para saírem do país.
E é com este processo histórico, familiar e pessoal, que me convoco (como dizem os Napa) para lamentar que o” não é não” tivesse sido enterrado e, desde logo, neste âmbito.
Desrespeitando-se a história de um país multicultural e a dos verdadeiros portugueses, os que deram novos mundos ao mundo e que regressaram mais ricos em termos da sua identidade, enriquecendo, também, o país como um todo.
Não, definitivamente não!
Um verdadeiro partido social-democrata, que tem a dignidade da Pessoa Humana como o seu valor maior, não pode agir, em matéria determinante porque civilizacional, como Montenegro o faz. Ou, então, deixou de ser social-democrata e, nessa circunstância, digam-no com todas as letras, por forma a que possamos, os que o são, “emigrar” para outras instituições político-partidárias (existentes ou a criar).