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Madeira

Francisco Gomes revela "completa falta de noção" sobre funcionamento da PSP, diz Sindicato

Críticas sobre falta de meios devem ser dirigidas ao Ministério da Administração Interna, aponta estrutura

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O Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) reagiu publicamente às críticas do deputado do Chega na Assembleia da República, que exigiu ontem a demissão do comandante regional da PSP, o superintendente Ricardo Matos, acusando-o de uma "liderança fraca" e "incompetente".

Francisco Gomes exige demissão do comandante da PSP da Madeira

O deputado do CHEGA na Assembleia da República, Francisco Gomes, exigiu a demissão do comandante regional da PSP, o superintendente Ricardo Matos, apontando-lhe uma liderança “fraca, incompetente e profundamente desajustada à realidade operacional e social da Região”. Através de uma nota de imprensa, o parlamentar diz que a situação vivida pelos efectivos da PSP na Madeira resulta, em grande parte, das opções e práticas impostas pela actual chefia.

A estrutura sindical considera que Francisco Gomes revela "completa falta de noção" sobre funcionamento da PSP.

"Nos últimos dias, o deputado Francisco Gomes decidiu apontar armas verbais ao Comandante Regional da PSP da Madeira, exigindo a sua demissão como se, com um simples ato administrativo, todos os problemas de segurança pública da Região se evaporassem. É uma ideia simples, mas errada. E, pior, revela uma completa falta de noção sobre como a PSP realmente funciona", pode ler-se na nota remetida pelo SNOP às redacções.

No comunicado, o sindicato explica que "um comandante regional não fabrica polícias numa impressora 3D, nem estaciona viaturas de patrulha no parque só porque quer". "O número de efectivos, a distribuição de meios, o investimento nas esquadras e até o modelo de patrulhamento são definidos pela Direcção Nacional e pelo Ministério da Administração Interna (MAI)", aponta o SNOP, imputando as responsabilidades ao Governo. 

Este é o verdadeiro centro de decisão. É de lá que vêm — ou não vêm — os recursos. É de lá [MAI] que nascem as políticas de segurança, e é para lá que devem ser dirigidas as críticas sobre falta de meios Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP)

O SNOP diz ainda que por conveniência, Francisco Gomes "dispara sobre quem está mais perto", mas realça que nesse processo "coloca em causa o trabalho de profissionais que, com meios insuficientes, continuam a garantir segurança a todos, dia e noite".

O senhor deputado fala de falta de patrulhamento, mas omite que os agentes disponíveis têm de se desdobrar em serviços essenciais e sobrecarregados. Reclama sobre horas extraordinárias e serviços gratificados, mas parece desconhecer que o atraso nos pagamentos é uma questão orçamental e burocrática que só o Governo pode resolver. Critica 'estilo autoritário', mas ignora que a autoridade hierárquica é prevista na lei e necessária para gerir operações policiais complexas, 'sendo a PSP uma instituição hierarquizada com princípio de unidade de comando' Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP)

O sindicato considera, por isso, que o discurso de Francisco Gomes é "cheio de adjectivos e vazio de soluções": "Uma encenação política que tenta transformar um problema estrutural nacional num caso pessoal regional". "É como culpar o comandante de um navio por não haver vento suficiente para as velas", resume o SNOP.

Este sindicato clarifica ainda que "não defende as pessoas per si'.

"[O SNOP] defende a verdade, a instituição e todos aqueles que diariamente se comprometem em dar o seu melhor pela segurança pública. E a verdade é que a Madeira, tal como outras regiões do país, sofre de défice estrutural de efetivos e meios, fruto de anos de desinvestimento central. A demissão de um comandante não vai resolver isso", conclui a nota.

Passa ainda o desafio: "O que resolveria, permita-nos a ousadia, seria o senhor deputado usar a sua energia para interpelar o MAI, exigir mais recursos, pressionar a Direção Nacional, apoiar medidas que valorizem quem veste a farda, mas sobretudo contribuir com propostas e soluções legislativas que ajudem a Polícia a melhor a sua capacidade de resposta e a valorizar os seus profissionais, actuais e futuros".

Acusar o comandante regional é fácil; enfrentar a Direção Nacional e o Ministério exige coragem. Pelos vistos, essa é a parte que ficou por fazer Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP)