Incêndios

Após mais um solstício de Verão, o nosso território volta a ser assolado por mais uma época de incêndios, uma sina tão recorrente que se o nosso ilustre poeta Luís Vaz de Camões tivesse de compor a sua Infame Obra nos dias de hoje, possivelmente começaria com “As fagulhas e as labaredas assinaladas…”. Após 25 anos de um dos séculos com a maior evolução tecnológica da história da humanidade, ainda não atingimos o engenho de abrandar o número de incêndios que deflagram na nossa Nação. No ano transato, 2024, Portugal foi o responsável por mais de um terço de toda a área ardida da União Europeia (135 mil hectares) e até para ficar mais impressionante, os nossos “hermanos” espanhóis que possuem o quíntuplo da nossa área territorial e que partilha o mesmo clima e vegetação, ardeu apenas 48 mil hectares.

E agora a questão que vale um milhão, porque é que todos os anos padecemos do mesmo mal? Porque é que continuamos a propagar esta amaldiçoada tradição, sabendo das suas terríveis consequências? Ainda há pouco tempo, houve eleições legislativas e refira-se que a nível de incêndios houve um total de 0 medidas anunciadas para reduzir e prevenir os incêndios do nosso território. Aliás, todos os anos, existe o fenómeno em que os nossos políticos só se lembram dos mesmos quando ocorre algum flagelo como a destruição de habitações, ou em casos mais graves, perdas de vidas humanas. Pensava-se que depois da tragédia de Pedrogão Grande, os governos finalmente tomassem consciência e cumprissem com o seu dever de aplicar políticas de prevenção de incêndio como obrigar as limpezas dos matos, reforçar meios de forma combater focos iniciais e executar um correto ordenamento do território, mas pelos vistos tal deverá acontecer quando decidirmos mudar o local do parlamento para o interior do país, rodeado de árvores de eucaliptos.

Mas os políticos não são os únicos culpados, na nossa sociedade também estão instalados diversos indivíduos que por questões económicas (pois que não se pense que existe negócios lucrativos com os terrenos ardidos), ou por questões de insanidade, decidem provocar uma faísca do que pode surgir uma grande devastação de labaredas. E infelizmente muitos destes continuam soltos na nossa sociedade sem que a nossa justiça funcione, ou quando funciona, cumprem uma pena irrisória que não serviu para que o maníaco faça a sua devida reflexão.

E para mais, temos no nosso território, proprietários que não cumprem com os seus deveres e não fazem a respetiva limpeza dos seus terrenos, colocando a sua segurança e a dos outros em perigo e obrigando que heróis sem capa tenham de se sacrificar para eliminar as chamas que assolam as nossas vidas.

Devemos de uma vez por todas aprender a nossa lição, mudar o nosso fado de passar os nossos verões sempre com a preocupação de saber que possível catástrofe poderá ser um foco de incêndio que deflagre e assim poder garantir que uma tragédia como aconteceu em Pedrogão.

Gonçalo Brito