A Lealdade que nos falta…

Há palavras que resistem ao tempo. Lealdade é uma delas. Mas, como tantas outras, também esta foi sendo corroÍda, confundida, torcida até se parecer com o oposto daquilo que era. Hoje, em muitos lugares — da polÍtica às relações pessoais — lealdade virou sinónimo de silÊncio, obediÊncia ou, pior, conveniÊncia.

Mas eu ainda acredito naquela outra lealdade. Aquela que não se curva, mas se ergue. Que não serve, mas questiona. Que não fecha os olhos, mas insiste em ver — mesmo quando o que se vÊ desilude. A lealdade que vale é a que se apoia em princÍpios, não em pessoas. É essa que faz falta.

Num paÍs onde os polÍticos se agarram ao cargo como se fosse um direito divino — ou, no mÍnimo, uma herança de famÍlia — Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, faz aquilo que poucos ousam: sair. Sem encenações, sem dramatismos... Sai com a consciÊncia tranquila de quem sabe que não falhou, mas também não venceu.

Porque entre o “não correu mal” e o “correu bem” há um abismo. Um desfiladeiro onde tombam projetos, ideias e lideranças que deixam passar o tempo certo e teimam em insistir no tempo errado. Rui Rocha não cai nesse erro. Percebeu que o paÍs mudou — e mudou depressa. Mudou o tom, mudou a pressa, mudou a temperatura emocional do discurso. E com essa mudança, parte da sua proposta deixou de encaixar. Não por falha sua, mas porque o paÍs simplesmente virou a página.

É raro ver alguém sair porque percebeu que já não está a acrescentar. Mais raro ainda é fazÊ-lo sem ser empurrado, sem o jogo de bastidores, sem a pressão das manchetes. Rui Rocha sai como entrou: discreto, direto, com clareza e respeito. Respeito pelo partido, pelo eleitorado, e talvez sobretudo pela polÍtica enquanto espaço de responsabilidade — e não de vaidade. Obrigado, Rui. “Faça sol, faça chuva, faça vento, o Rui é um liberal com portento. Contamos contigo no parlamento!”

Tenho dito!

José Augusto de Sousa Martins