‘PS lança Rui Caetano para dar novo rumo ao Funchal’. Este foi o título da edição do DIÁRIO, deste sábado, em que era noticiada a escolha do professor e deputado para encabeçar a lista de candidatos do PS à principal autarquia da Região. A opção gerou entusiasmo contido em muito socialistas, indiferença noutros e alguns outros não perderam tempo em detrair o militante, nomeadamente, ao acusar de ter protagonizado a candidatura que pior resultado alcançou, em eleições autárquicas no Funchal.

Será verdade que isso aconteceu e que Rui Caetano obteve o pior resultado de sempre dos socialistas?

A verificação destes factos implicou um levantamento de todos os resultados eleitorais, em eleições para as autarquias locais, no que respeita à Câmara do Funchal, desde 1976 até à actualidade. Tentámos, igualmente, listar todos os eleitos vereadores, mas, neste aspecto, somos tivemos sucesso parcial. Mas vamos por partes.

O levantamento da informação oficial foi feito com base em três fontes: Diário da República (Mapas oficiais de resultados); SGMAI - Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna e CNE – Comissão Nacional de Eleições. Para contextualizar o acto eleitoral, socorremo-nos a notícias de cada época.

As primeiras eleições autárquicas realizaram-se em 1976 e as últimas em 2021. Foram 13 actos eleitorais. Nelas, o PS apresentou-se sozinho em oito 8 e em coligação noutras 6. Nas primeiras duas vezes em que se apresentou coligado, fê-lo com o actual paceiro do PSD, o CDS.

Foto Rui Marote/Arquivo

Rui Caetano foi cabeça-de-lista em 2009 e, nessas eleições, o PS apresentou-se sozinho a eleições, à semelhança do que havia feito quatro anos antes. Rui Caetano foi eleito vereador, mas os socialistas não conseguiram eleger mais ninguém.

Esse acto eleitorasl aconteceu num contexto político muito particular e difícil para o PS-Madeira. Havia uma guerra entre a Região, Alberto João Jardim e o PSD-Madeira, de um lado, e, do outro, o Primeiro-ministro José Sócrates e o seu Governo da República.

Foto Hélder Santos/ASPRESS/Arquivo

Dois anos antes, em 2007, houve eleições regionais antecipadas, na sequência de uma demissão de protesto de Alberto João Jardim, com o PSD a capitalizar o descontentamento contra Lisboa e o PSD-M a obter o seu melhor resultado. Nessas regionais de 2007, o PSD obteve no Funchal 35.696 votos correspondentes a 59.47% de toda a votação no concelho e o PS conseguiu 9.091 votos correspondentes a 15.15%.

Nas autárquicas de 2009, o PS com Rui Caetano conseguiram 7.584 votos equivalentes a 13,54% dos votos. No entanto, os votos perdidos pelo PS não foram para o PSD, que apresentava uma lista encabeçada por Miguel Albuquerque e perdeu mais de 5 mil votos relativamente a 2007 (ainda que sejam eleições diferentes). Os social-democratas tiveram 29.227 votos e 52.2%. Os votos ter-se-ão dispersado e mais de quatro mil foram para a abstenção.

Nas eleições de 2009, os votos dispersaram-se por um conjunto de forças políticas, tendo cinco conseguido eleger vereadores, Foi o maior número de sempre. Uma dessas forças foi o PND, que elegeu Gil Canha.

Nas eleições seguintes, em que Albuquerque já não se candidatou, o PSD apresentou Bruno Pereira e o PS Paulo Cafôfo, numa coligação de seis partidos (PS-BE-MPT-PTP-PAN). Gil Canha integrou essa lista, que veio a ganhar a Câmara do Funchal, com 21.102 votos, correspondentes a 39.22%.

Apesar deste contexto político, os dados mostram que o PS, de facto, nunca teve tão poucos votos no Funchal como em 2009 e também foi quando obteve a menor percentagem. O resultado, na história, mais parecido, aconteceu em 1985, com a obtenção de 7.761 votos e 18,22% de votos. Mas, porque, no outro lado, houve uma concentração de votos no PSD, o PS elegeu dois vereadores.

Pelo que aqui fica dito e como se pode verificar nos quadros, é verdade que Rui Caetano liderou a candidatura do PS à Câmara do Funchal que obteve o pior resultado do partido, apesar de ter sido a última vez em que o PS não se apresentou coligado e de ter sido uma das eleições com pior contexto político para a oposição, em particular, para o PS que era Governo na República, com José Sócrates.