A Noite da Madeira
Vivemos num tempo de mudança. O turismo na Madeira está em crescimento, mas continua a faltar-lhe diversidade ao nível do entretenimento noturno. A nossa ilha precisa de espaços com qualidade, seguros e inclusivos espaços que atraiam e tragam aos madeirenses novas experiências como aos nossos visitantes.
O novo turismo é jovem, curioso e sedento de experiências que vão muito além das paisagens e da gastronomia.
A Madeira tem um potencial enorme para inovar neste setor, criar emprego, atrair novos públicos e afirmar-se como um destino cultural vibrante. Mas para isso é preciso visão, coragem para arriscar e, acima de tudo, abertura para o novo.
É tempo de repensar os espaços existentes e criar oportunidades para novos projetos. É tempo de unir entidades públicas, promotores, artistas, empresários e comunidade para, juntos, traçarmos novos horizontes. Precisamos de condições reais para que a noite volte a ser uma força viva da nossa cultura.
O que falta, muitas vezes, é abertura e apoio. Vivemos numa ilha onde a realização de eventos noturnos é frequentemente dificultada, seja por limitações horárias ou pela questão do ruído.
Mas será que o problema é mesmo o Ruído?
A verdade é que tanto a população local como os turistas vão continuar a procurar espaços onde possam viver experiências autênticas e expressar-se livremente. A diferença está em sabermos oferecer locais seguros, bem estruturados e preparados para acolher essa energia, espaços onde a festa aconteça com responsabilidade, dentro das regras, com segurança e espírito de inclusão.
A massificação do turismo é uma realidade incontornável. Se não acompanharmos essa evolução com propostas culturais relevantes e atualizadas, corremos o risco de regressar a um modelo de turismo envelhecido e pouco diversificado. Com uma regulação adequada, é perfeitamente possível conciliar o turismo tradicional com uma oferta noturna de qualidade dinâmica, segura e alinhada com as novas gerações de viajantes. Precisamos abrir portas a todos os tipos de turismo: o de natureza, o gastronómico, o cultural e também o de entretenimento. Só assim poderemos construir uma Madeira mais completa, vibrante e preparada para o futuro.
A noite pode e deve fazer parte da solução. É um setor que gera emprego, atrai investimento e pode fortalecer o tecido social, artístico e económico. Quando bem organizada, a noite educa, promove o respeito e cria espaços de verdadeira inclusão. É esse o modelo que devemos procurar.
Esta carta é um apelo direto às autarquias, às entidades públicas e privadas, e a todos os que vivem, trabalham e acreditam no poder transformador da noite na Madeira. Precisamos deixar para trás a ideia de que a noite representa apenas um lado problemático da sociedade. Quando bem estruturada, regulada e apoiada, a noite não é um risco, é uma oportunidade. Uma oportunidade para educar, integrar, gerar emprego, atrair turismo e valorizar a nossa cultura. A Madeira tem tudo para voltar a ser uma referência no panorama noturno, com identidade, segurança e inovação. Só falta acreditarmos nisso e termos a coragem de agir.
Ricardo Diogo