A terapeuta ocupacional e fundadora da HumanaMente, Patrícia Paquete, falou hoje, numa entrevista ao DIÁRIO, sobre o facto de sermos idadistas em relação às pessoas mais velhas. “O idadismo está em todo lado, inclusive em nós próprios”, apontou, defendendo que cada um “reflectisse sobre o seu próprio envelhecimento, começando hoje a prepará-lo, para que possamos envelhecer da melhor forma”.
Mas, afinal, o que é o idadismo?
Para saber mais sobre este assunto socorremo-nos do Relatório Mundial sobre o Idadismo, publicado em 2021 pela Organização Mundial de Saúde, no âmbito da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030). A OMS começou à data a desenvolver uma campanha global de combate ao idadismo e determinou três estratégias eficazes: as políticas públicas e a legislação, intervenções ao nível da educação e o contacto intergeracional.
O idadismo, conforme se lê no documento, prejudica nossa saúde e nosso bem-estar e é uma grande barreira para que sejam sancionadas políticas eficazes e adoptadas medidas que promovem o envelhecimento saudável, conforme reconhecem os Estados Membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Estratégia e plano de acção global sobre envelhecimento e saúde e na Década do Envelhecimento Saudável: 2021‒2030. Em Portugal há inclusive organizações que se dedicam à temática: https://stopidadismo.pt/.
NATUREZA DO IDADISMO
O idadismo se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade delas. O idadismo pode ser institucional, interpessoal ou contra si próprio.
DETERMINANTES DO IDADISMO
Os factores que aumentam o risco de incorrer idadismo contra as pessoas idosas são: ser jovem, do sexo masculino, ansioso em relação à morte e ter menor grau de instrução.
Os factores que reduzem o risco de incorrer idadismo tanto contra pessoas jovens como idosas estão relacionados a determinados traços de personalidade e a maior contato intergeracional.
Os factores que aumentam o risco de as pessoas serem vítimas de idadismo são: ter mais idade, ser dependente de cuidados, ter uma expectativa de vida saudável menor no país, e trabalhar em certas profissões ou em determinados sectores ocupacionais, como no sector de alta tecnologia ou hoteleiro. Um factor que aumenta o risco de ser alvo de idadismo contra jovens é ser do sexo feminino.
ESCALA DO IDADISMO
O idadismo tem consequências graves e de longo alcance para a saúde, o bem-estar e os direitos humanos da população.
Para pessoas idosas, o idadismo está associado a uma menor expectativa de vida, pior saúde física e mental, recuperação mais lenta de incapacidade e declínio cognitivo.
O idadismo piora a qualidade de vida das pessoas idosas, aumenta seu isolamento social e sua solidão (ambos os factores estão associados a graves problemas de saúde), restringe sua capacidade de expressar sua sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso contra as pessoas idosas. O idadismo também pode reduzir o compromisso dos jovens com a organização na qual trabalham.
No caso dos indivíduos, o idadismo contribui para a pobreza e a insegurança financeira em idades mais avançadas, e uma estimativa recente indica que o idadismo custa bilhões de dólares à sociedade.
TRÊS ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR O IDADISMO
Ficou demonstrado que há três estratégias que funcionam para reduzir o idadismo: política e lei, actividades educativas e intervenções de contato intergeracional.
POLÍTICA E LEI
Políticas e leis podem ser usadas para reduzir o idadismo em relação a qualquer faixa etária
Podem incluir, por exemplo, políticas e legislação que abordem a discriminação e a desigualdade por idade, bem como leis de direitos humanos. O fortalecimento das políticas e leis que visam ao idadismo pode ser conseguido por meio da adopção de novos instrumentos nos níveis local, nacional ou internacional e da modificação dos instrumentos existentes que permitem a discriminação por idade.
Essa estratégia requer mecanismos de imposição e órgãos de monitoramento nos níveis nacional e internacional para assegurar a implementação efectiva das políticas e leis que abordem a discriminação, a desigualdade e os direitos humanos.
INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS
As intervenções educacionais para reduzir o idadismo devem ser incluídas em todos os níveis e tipos de formação, do primário à universidade, e em contextos educacionais formais e informais.
As actividades educacionais ajudam melhorar a empatia, dissipar conceitos errôneos sobre diferentes faixas etárias, e reduzir o preconceito e a discriminação ao fornecerem informações correctas e exemplos que combatam os estereótipos.
INTERVENÇÕES DE CONTACTO INTERGERACIONAL
Deve-se também investir em intervenções de contato intergeracional que visem a fomentar a interação entre pessoas de diferentes gerações. Tal contato pode reduzir o preconceito entre grupos e os estereótipos. As intervenções de contato intergeracional estão entre as mais eficazes para reduzir o preconceito contra as pessoas idosas, e também se mostram promissoras na redução do preconceito contra os jovens.