A Liberdade, o Presente e o Futuro
No dia 25 de abril de 1974, Portugal testemunhou um momento marcante na sua história: a Revolução dos Cravos, que pôs fim a décadas de ditadura e inaugurou um percurso de liberdade, democracia e esperança. Este marco simboliza, até hoje, a luta pela liberdade e por direitos fundamentais, valores que devem ser preservados e reforçados. Contudo, os tempos mudaram e o conceito de liberdade evoluiu, enfrentando novos desafios num mundo cada vez mais digitalizado e inseguro.
Se, na época do 25 de Abril, a liberdade era entendida sobretudo como ausência de repressão política e direito à expressão, hoje ela enfrenta formas de aprisionamento mais subtis, muitas vezes virtuais. As redes sociais, plataformas de streaming e o mundo online oferecem oportunidades incríveis de conexão e informação, mas também criam ambientes de vigilância, manipulação e dependência. A privacidade, que outrora era um direito garantido, encontra-se ameaçada por empresas, governos e hackers que recolhem e utilizam dados pessoais, muitas vezes sem o nosso pleno conhecimento ou consentimento. Assim, somos aprisionados/as por algoritmos que moldam opiniões, por informações enviesadas ou falsas, e por uma sensação de perda de controlo sobre a nossa própria vida digital.
Paralelamente, vivemos num mundo onde a insegurança parece estar sempre presente. A violência, as guerras, as crises económicas e a instabilidade geopolítica alimentam um sentimento de vulnerabilidade crescente. A sensação de apagão – como literalmente ocorreu no dia 28 de abril –, de uma ausência de resposta clara perante desafios complexos, como as alterações climáticas ou as crises sucessivas, aumenta a ansiedade coletiva. Cada notícia alarmante reforça a perceção de que estamos numa encruzilhada, numa altura em que o futuro parece incerto e ameaçador.
Num contexto desafiante como este, a sensibilidade pessoal torna-se uma ferramenta essencial. A capacidade de dialogar, de refletir, de manter uma postura de vigilância crítica, é fundamental para não nos deixarmos dominar pelo medo ou pela passividade. A resistência à desinformação, o cuidado com a saúde mental, a participação cívica e a solidariedade são elementos que fortalecem a nossa autonomia e a nossa liberdade individual e coletiva.
Contudo, é importante alertar para as ameaças constantes de retrocessos nas liberdades e garantias conquistadas ao longo de décadas. Em muitos países, e também em Portugal, verificamos tentativas de restringir direitos, de controlar a expressão ou de limitar o acesso à justiça sob pretextos de segurança ou de modernização. O medo de perder o que foi conquistado deve servir de alerta à sociedade, às instituições democráticas e às pessoas cidadãs conscientes da sua responsabilidade.
O 25 de Abril ensinou-nos que a liberdade não é um dado adquirido, mas uma conquista permanente, que exige vigilância, participação e coragem. Nos dias de hoje, essa liberdade manifesta-se não só na ausência de repressão política, mas também na defesa do direito à privacidade, na promoção da segurança sem autoritarismos, na luta contra as desigualdades e na preservação do Estado de direito.
Para que o legado do 25 de Abril continue vivo, é fundamental que cada um/a de nós assuma a responsabilidade de proteger, valorizar e reforçar esses direitos. A liberdade, exige de nós uma postura ativa, consciente e sensível às mudanças do mundo, para que possamos construir uma sociedade mais justa, segura e livre para todas as pessoas.