Equipas que incluem pessoas neurodivergentes podem ser 30% mais produtivas
A conclusão é da Ordem dos Psicólogos Portugueses, que, a propósito do Dia Internacional do Trabalhar, lançou o novo Policy Brief ‘Diversidade e Inclusão nos Locais de Trabalho’. O documento sintetiza evidência científica nacional e internacional sobre os impactos positivos da diversidade nas organizações, e alerta para as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência, neurodivergentes e de origens socioculturais diversas.
Num mercado de trabalho global e em constante transformação, a diversidade e a inclusão não são apenas imperativos éticos, mas trazem vantagens para as organizações. Este documento reúne dados concretos e recomendações estratégicas que demonstram como práticas inclusivas geram retorno efectivo para as organizações. Ordem dos Psicólogos Portugueses
Conclui, então, este documento, publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, que as equipas que incluem pessoas neurodivergentes (com autismo, sobredotação ou hiperactividade) podem ser 30% mais produtivas do que equipas somente neurotípicas. As organizações com maior diversidade sociocultural têm uma probabilidade 39% maior de atingir mais ganhos económicos do que organizações menos inclusivas.
Mais, as organizações mais inclusivas conseguem, comparativamente às menos diversas, reduzir a perda de talentos em quase 50%. Dita o Policy Brief que a diversidade inspira práticas inovadoras, novos produtos e iniciativas organizacionais eticamente responsáveis.
Ainda assim, mesmo que todas as conclusões apontem para vantagens na criação de equipas diversas e inclusivas, a realidade das estatísticas europeias indica que menos de 29% das pessoas com autismo estão empregadas, comparativamente a 48,1% das pessoas com deficiência e a 73,9% da população em geral.
Em Portugal, em 2021, na taxa de empregabilidade entre pessoas com e sem deficiência era de 16,2%. No mesmo ano, a taxa de desemprego da população migrante (11,9%) era quase o dobro face à população portuguesa (6,6%). Segundo a Comissão Europeia, 52% das pessoas com deficiência sente-se discriminada. A Ordem dos Psicólogos Portugueses partilha um conjunto de recomendações estratégicas, com vista a inverter esta realidade.
Recomendações estratégicas:
1. Promover literacia sobre diversidade e inclusão – Compreender e saber mais sobre diferentes características associadas a pessoas com deficiência, neurodivergentes ou pertencentes a outras culturas.
2. Definir práticas inclusivas de recrutamento — Adaptar os anúncios de emprego a diferentes línguas; fazer uma “triagem cega” dos currículos; considerar o potencial de discriminação das competências exigidas.
3. Integrar as necessidades dos trabalhadores — Escutar e dialogar com os trabalhadores sobre as suas necessidades, melhores capacidades, interesses específicos e barreiras percepcionadas.
4. Flexibilizar a organização do trabalho — Diferentes trabalhadores necessitam de diferentes horários e modelos de trabalho, por terem períodos específicos de maior produtividade, pela forma como se organizam face a tarefas e prazos, por terem consultas médicas regulares.
5. Criar condições de trabalho adaptadas — As características específicas dos trabalhadores podem requerer acessos (como rampas), espaços que considerem a (sobre) estimulação sensorial ou, por exemplo, espaços apropriados para práticas religiosas.
6. Fomentar um clima organizacional inclusivo — A colaboração, o respeito, a comemoração da diversidade e a valorização da diferença são a base de um local de trabalho inclusivo.
7. Promover práticas de liderança inclusivas — É importante que os líderes sejam treinados para reconhecer enviesamentos, facilitar a segurança psicológica e serem exemplo de comportamentos respeitadores da diversidade.