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Explicador Madeira

Como se escolhe um Papa?

Quando um Papa morre ou renuncia ao cargo, a Igreja Católica inicia um processo altamente reservado e espiritual: o Conclave. Este ritual centenário, envolto em tradição, silêncio e solenidade, conduz à eleição do novo líder espiritual de mais de mil milhões de católicos em todo o mundo. Mas como funciona exatamente este processo? Quem participa? Como se vota? E o que acontece quando se ouve a célebre frase “Habemus Papam”? Esta é uma viagem ao coração de uma das escolhas mais simbólicas da história da Igreja.

O que é o Conclave?

O Conclave é o processo através do qual os cardeais da Igreja Católica elegem o novo Papa, sucessor de São Pedro. A palavra vem do latim cum clave, que significa “com chave”, aludindo ao isolamento obrigatório dos cardeais eleitores durante toda a duração da eleição. A prática remonta ao século XIII, depois de um interregno papal que se prolongou por quase três anos. Para evitar futuras demoras e pressões externas, foram estabelecidas regras rigorosas: os cardeais devem permanecer reunidos, incomunicáveis, até chegarem a uma decisão.

Quem pode votar?

Apenas os cardeais com menos de 80 anos no momento em que a Sé Apostólica fica vaga têm direito a voto. São chamados “cardeais eleitores” e, segundo as normas actuais, o colégio eleitoral não pode ultrapassar os 120 elementos. Estes cardeais são provenientes de todas as partes do mundo, reflectindo a universalidade da Igreja. Muitos são arcebispos de grandes dioceses; outros pertencem à Cúria Romana, a estrutura administrativa do Vaticano.

O início do processo: o período de preparação

Após a morte ou renúncia de um Papa, o Colégio dos Cardeais reúne-se em várias sessões, conhecidas como “congregações gerais”. Durante este período, são abordadas questões práticas relativas à gestão da Igreja e, sobretudo, começa-se a traçar o perfil do próximo Papa. É também neste tempo que os cardeais avaliam informalmente os possíveis candidatos, embora não haja oficialmente campanhas ou candidaturas. O objectivo é permitir que cada cardeal reflicta e discirna com liberdade e oração.

O local sagrado da eleição

A Capela Sistina, dentro do Vaticano, é o cenário onde decorre a eleição. Conhecida mundialmente pelas obras-primas de Michelangelo, a capela é transformada para acolher este momento único. São instaladas mesas, urnas e até equipamentos especiais para evitar qualquer fuga de informação. A segurança e o sigilo são máximos: os cardeais ficam alojados na Casa de Santa Marta, dentro do Vaticano, e não têm acesso a telemóveis, internet, jornais ou qualquer meio de comunicação externo.

Como decorre a votação

Cada cardeal escreve, de forma secreta, o nome do seu escolhido num boletim que deposita numa urna. Os votos são depois contados por escrutinadores eleitos entre os próprios cardeais. Para que alguém seja eleito Papa, é necessário obter uma maioria qualificada: dois terços dos votos. Se ninguém atingir esse número, os boletins são queimados e realiza-se nova votação. Há até quatro votações por dia: duas de manhã e duas à tarde.

O sinal visível para o mundo está na chaminé colocada no tecto da Capela Sistina. Sempre que termina uma votação, os boletins são queimados com produtos que produzem fumo preto (caso não haja Papa) ou fumo branco (caso alguém tenha sido eleito). É este o momento em que os fiéis reunidos na Praça de São Pedro aguardam em expectativa.

A aceitação e o “Habemus Papam”

Quando um cardeal é eleito, é-lhe feita a pergunta formal: “Aceitas a tua eleição canónica como Sumo Pontífice?”. Se aceitar, escolhe de imediato o nome papal, um gesto que simboliza a missão que abraça. Em seguida, veste-se pela primeira vez com as vestes brancas de Papa, numa sala conhecida como a Sala das Lágrimas, e prepara-se para o momento histórico.

Do lado de fora, o Cardeal Protodiácono sobe à varanda central da Basílica de São Pedro e anuncia ao mundo: “Habemus Papam” — “Temos Papa”. Pouco depois, o novo Pontífice surge para saudar os fiéis e dar a sua primeira bênção apostólica, conhecida como “Urbi et Orbi” (à cidade e ao mundo).

Linha do tempo de um Conclave

  • Dia 1: A Sé Apostólica fica vaga. Começa o período de luto e preparação.
  • Dias 2 a 15: Realizam-se congregações gerais, reflexões e organização logística.
  • Dia 16: Início formal do Conclave. Entrada solene dos cardeais na Capela Sistina.
  • Dias seguintes: Votação diária, até ser alcançada a maioria de dois terços.
  • Dia final: Fumo branco. Eleição e aceitação do novo Papa. Proclamação do “Habemus Papam”.

Tradição, fé e discernimento

O Conclave é mais do que uma eleição. Para a Igreja Católica, trata-se de um momento de discernimento profundo, guiado pelo Espírito Santo. Embora envolto em regras, protocolos e simbolismo, o essencial permanece inalterado: a escolha de um homem que será não apenas líder espiritual, mas também símbolo de unidade, esperança e renovação para milhões de crentes no mundo inteiro.